É claro que a eleição de Joe Biden nos EUA serviria para aquecer os desejos, no mínimo “exóticos”, de parcelas da imprensa brasileira e da militância antipolítica que está desiludida com Bolsonaro.
Na mesma noite em que se comemorava a derrota de Donald Trump, uma nota surgiu na imprensa. Nela, comenta-se sobre uma reunião entre Sergio Moro e Luciano Huck. Bastou para que os entusiastas da destruição da política ficassem em polvorosa.
Inclusive um debate coberto de desonestidade surgiu, sobre a defesa de uma frente ampla em torno dos dois. Um erro absurdo.
Primeiro, Moro é um extremista de carteirinha, disputando os radicais do Bolsonaro e defendendo todo tipo de barbaridade. Já expliquei isso nestes textos aquie aqui.
Segundo, Biden é um político, formado em política e moldado pela política. Vários fatores contribuíram para a sua vitória e um deles foi a oportunidade de restaurar a política tradicional, demolida e pervertida por Trump.
Moro e Huck não pensam assim. Huck constantemente vende o discurso de “outsider” e Moro, com a turma do Ministério Público, sempre que podem, bradam simplismos e discursos de ódio contra a política, “contra tudo isso que está aí”. Isso te lembra alguém?
O país não vai aguentar brincar de candidaturas incapazes, de gente de fora mais uma vez. Já disse aqui: não foi Bolsonaro que inventou, ou “importou”, a nova política ao Brasil, tampouco será o último.
A pandemia mostrou que apenas políticos podem fazer uma boa gestão do Estado, sem exceção. Todos da “nova política” fizeram conduções péssimas no que diz respeito ao controle da crise sanitária no país. Outra coisa, a pandemia ainda mostrou a importância do Estado e das instituições, como por exemplo o SUS, que era alvo de piadas e tiradinhas desonestas e agora foi coroada com a tag #DEFENDAOSUS.
A mínima possibilidade de privatização gerou uma gritaria absurda na sociedade, tão grande que fez o governo correr para retirar a proposta. Há alguns anos a privatização do SUS já era defendida de forma desavergonhada por algumas “personalidades”, agora, muitos têm vergonha de assumir tal posição.
Até o governador de São Paulo, que se elegeu prefeito e governador com o discurso de outsider antipolítica, resolveu se comportar como um político e ainda apontar para as atitudes antipolíticas do presidente Jair Bolsonaro. Virou político e não há demérito nenhum nisso. Não há solução fora da política.
Reafirmo: o Brasil não suportará mais uma “brincadeira” e assim dará uma mensagem clara ao eleitor de que a política não vale nada mesmo e, infelizmente, reforçará o danoso discurso “contra tudo isso que está aí”.
Pergunto-me se os jornalistas que apresentam o chamado “Mohuck” realmente se importam com a saúde de nosso sistema político. Afinal de contas, precisamos parar de dizer que negociar com o Congresso é sinônimo de corrupção, algo que a Lava Jato do Moro ama repetir.
Querem fazer política como? Com porrete e ameaças? Política é mediação, negociação, consensos para o bem comum.
Leia também: 2020 enterra a nova política para 2022
A “maldição das amizades” de Luciano Huck é outro exemplo desse desconhecimento em política. Isso é o que ocorre com quem é de fora da política, não tem repertório para entender e se posicionar. Aí dão justificativas rasas e até infantis sobre escolhas erradas.
Exemplos? Há vários!
Em vídeo, Huck disse que, se eleito, Bolsonaro tem 'chance de ressignificar a política'. O típico discursinho de quem não entende, não conhece e não sabe o que, ou como fazer, o Brasil girar. O tipo de simplismo que deixa estridente a ignorância do apresentador sobre a política.
O risível desejo de ‘ressignificar a política' é um eufemismo para antipolítica, ou “nova política”. O Brasil não tem tempo e nem pode se dar ao luxo de ficar brincando de SimCity.
Desconfie de qualquer político que fale em “ressignificar a política”, “refundar a república”, ou que disser que é “contra tudo isso que está aí”. Eles não têm compromisso algum com o estado brasileiro e só querem desfazer, desmontar, sem saber para onde isso vai nos levar.
Nem de longe Moro e Huck são a chapa da moderação, tampouco a chapa da cautela. Precisamos recuperar a política e isso só se faz com políticos. A política é para políticos e para quem respeita os eleitores.
Rodrigo Maia definiu bem o que é a "nova política"... "Não fazer nada (acrescento, ‘ou atacar instituições’) e ficar esperando aplauso pelas redes".
O nosso sistema político precisa se blindar e garantir que não será tomado por figuras da antipolítica.
Onde há esse pensamento, há desmoralização, destruição e corrosão da institucionalidade. Afastem Barroso, com o TSE de Copolla, Moro e Huck de Brasília.