O assassinato brutal de João Alberto Freitas numa loja da rede Carrefour de Porto Alegre não é um fato isolado, não é coincidência, não é despreparo, é racismo, é defesa do lucro, acima da vida!
A rede Carrefour tem um histórico de violência e morte.
Em 2009, Januário Alves Santana, trabalhador da área de segurança da USP, treinado pela polícia federal, foi agredido no Carrefour em Osasco. Ele estava no carro, com a filha que dormia na cadeirinha de bebê, enquanto a esposa fazia compras. Ao ver a movimentação de motocicletas no estacionamento, pensou que seria assaltado. Para proteger a filha, saiu do carro e foi em direção ao supermercado. Assim que entrou nas dependências da loja, foi brutalmente espancado. Teve de reconstruir várias partes do rosto.
Naquele mesmo ano, um cliente foi agredido por funcionários em São Bernardo do Campo, no ABC, Luis Carlos Gomes, recebeu um mata-leão, teve múltiplas fraturas devido as agressões e ficou com uma perna mais curta que a outra.
Em setembro de 2020, Nataly foi demitida após denunciar injúria racial, encontrou um avental escrito: "só para branco usar".
No início de 2020, Moisés Santos morreu em uma loja da rede Carrefour, em Recife. Cobriram seu corpo com guarda sol e a loja continuou funcionando.
Véspera de 20 de Novembro: assassinato brutal de João Alberto Freitas numa loja de Porto Alegre
O que havia em comum em todos estes casos? As vítimas eram negras.
Violência institucionalizada e terceirizada
Em 20 de novembro, dia da Consciência Negra, poucas horas depois do assassinato de João Alberto, a Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV-CUT) publicou nota oficial para repudiar a violência no Carrefour.
A nota, assinado por José Boaventura Santos, presidente da CNTV-CUT, explicita de modo claro o porquê de o Carrefour e outras grandes redes, que usam segurança privada, acumularem tantos crimes: “O Carrefour é o principal responsável por esses crimes, uma vez que contrata serviços de segurança legais e ilegais apenas pra proteger a mercadoria, nunca as pessoas”.
O documento denuncia o fato de o grande contingente de vigilantes destas empresas do comércio ser formado por policiais sem o treinamento necessário dado pela Polícia Federal.
A categoria dos vigilantes conseguiu algumas vitórias que melhoram a segurança dos próprios vigilantes e dos clientes, como no serviço de segurança de shoppings, condomínios e dos bancos. Nas redes de supermercados valoriza-se a prevenção de perdas de mercadorias em detrimento da vida.
Leia a nota da entidade:
CARREFOUR É RESPONSAVEL POR MAIS UM ASSASINATO COVARDE
O assassinato covarde do cidadão João Alberto Silveira Freitas, no Supermercado Carrefour do bairro Passo D’ Areia, em Porto Alegre/RS, soma-se a outros tragédias que vitimaram cidadãos inocentes dentro desses estabelecimentos, em sua maioria negros e, na visão deles (empregadores), suspeitos.
O Carrefour é o principal responsável por esses crimes, uma vez que contrata serviços de segurança legais e ilegais apenas pra proteger a mercadoria, nunca as pessoas.
Diferente de outros setores da economia, onde a luta dos trabalhadores fez os empregadores priorizarem a política de segurança para a proteção das pessoas (funcionários e clientes) e não de dinheiro e mercadorias (bancos é um exemplo), no setor de supermercados a segurança ou a proteção continua tão somente da mercadoria. Daí vêm as tragédias, como a de ontem (19).
As grandes redes de supermercados escalam uns poucos vigilantes empregados de empresas autorizadas pela Policia Federal. Tudo pra aparentar alguma proteção. Mas, por outro lado, utilizam um outro contingente, maior inclusive, de policiais de folga, sem autorização da Federal, que realizam o serviço sujo de abordagens ilegais, agressões e assassinatos.
Os vigilantes são preparados e qualificados para proteger vidas, em primeiro lugar. Mas, aqui ou acolá, recebem orientações e são envolvidos num ambiente de violência e agressões que resultam em tragédias.
A nota do Carrefour, como sempre, busca eximir-se de culpa e responsabilizar os trabalhadores. Foi assim com um trabalhador rodoviário agredido em junho no Atacadão em Salvador, com um cidadão e depois com um cão no Carrefour Osasco, com um cliente no Extra no Rio de Janeiro, entre muitos outros casos.
Os vigilantes, seus Sindicatos, Federações e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes – CNTV repudiam o assassinato do cidadão João Alberto, manifesta solidariedade a todas as pessoas negras vítimas da violência e cobram das autoridades que responsabilizem o Carrefour pelo histórico de agressões e violência.
Brasília, 20 de novembro de 2020
Dia Nacional da Consciência Negra.
Viva Zumbi!