Túlio Mourão comemora 50 anos de carreira com o álbum “Barraco Barroco”

Delicado, extremamente melódico e, ao mesmo tempo, repleto de surpresas harmônicas, o disco consegue a proeza de ser sofisticado e acessível

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O pianista e compositor mineiro Túlio Mourão lança, no próximo dia 27 de novembro, nas plataformas digitais e também em formato físico, o álbum “Barraco Barroco”, onde comemora 50 anos de carreira.

Mourão tem uma linda trajetória que começou com a fase progressiva da lendária banda Os Mutantes, quando participou do álbum “Tudo foi Feito pelo Sol”, de 1974. Fez inúmeras trilhas premiadas para cinema e é um dos grandes pianistas da turma do Clube da Esquina. Tocou com Chico Buarque, Caetano Veloso, Mercedes Sosa, Pat Metheny, Jon Anderson. Milton Nascimento, Maria Bethânia, Raimundo Fagner e Eugénia Melo e Castro.

Teve várias de suas composições gravadas por inúmeros artistas, entre elas, “Teia de Renda”, em parceria com Milton Nascimento, destaque do álbum “Ânima”, de 1982.

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“Barraco Barroco”, ao invés de revisitar a carreira e obra do autor, faz a opção pelos ecos do passado. No álbum, Túlio traz as grandes influências da sua vida, entre elas a musica espanhola que seu pai sempre ouvia em casa. Nesta seara estão compositores como Manuel de Falla, Albeniz, Joaquin Rodrigo e Tárrega.

Como o título denuncia, outra influência marcante do compositor e instrumentista é a música barroca. Para tal, Túlio optou por uma sonoridade tanto simples quanto rica, onde seu piano é acompanhado pelos baixistas Enéias Xavier, Bruno Vellozo e Vagner Faria, os bateristas Felipe Continentino, Edvaldo Ilzo e Lincoln Cheib, os violonistas Renato Saldanha, Juarez Moreira e Toninho Horta e o percussionista João Paulo Drumond.

Ouvir o álbum “Barraco Barroco” é uma experiência e tanto. Delicado, extremamente melódico e, ao mesmo tempo, repleto de surpresas harmônicas o disco consegue a proeza de ser sofisticado e acessível. Suas composições chamam a atenção de qualquer público, desde o ouvinte ocasional até o mais experiente.

Túlio é um instrumentista técnico e toca como poucos. Mas prefere, bem ao gosto mineiro, as formas descomplicadas às estrepolias musicais. O compositor confessa, por exemplo, que no momento em que os primeiros acordes de “Céu de Cacos de Vidro” vieram à sua mente, pensou na guitarra de Toninho Horta. O autor de “Beijo Partido” entre tantos outros clássicos da nossa música, no entanto, superou todas as suas expectativas (e as do ouvinte também).

As misturas de sons que povoaram a vida de Túlio Mourão desfilam pelo álbum sempre com sutilezas. Não há mudanças bruscas de timbres nem de formatos instrumentais. Quase todo o álbum é gravado com o trio básico de piano, baixo acústico e bateria, com a participação esporádica de alguns instrumentistas, todos excelentes.

Suas composições, no entanto, são as tintas que carregam o ouvinte para vários universos sonoros em um álbum que traz uma rara unidade. Ao final de tudo, só ao piano, ele dá de presente a “Sonata Caipira”. Repleta de variações rítmicas e uma grande expressão melódica, a tocante composição entrega o pano de fundo de todas as influências do autor.

E, com ela, nos derramamos pelas montanhas das Minas Gerais até o final do “Barraco Barroco”, já com vontade de voltar aos sons mouros de “A Saga Ibérica”, no começo de tudo.