O Brasil está em queda livre e o problema é que o chão não chega. Cada dia vivido sob a batuta do maior mau-caráter da história política do país é uma tortura. Um show de horrores que nem o mais inventivo dos romancistas seria capaz de formular. Estorricamos de vergonha ao sol do meio-dia, fritos, rubicundos de constrangimento, enquanto a desgraça da vida pública corre lá fora.
Há dois dias, Jair Bolsonaro comemorou a morte de um voluntário que fazia parte dos testes da vacina CoronaVac, trazida ao Brasil por seu arqui-inimigo João Doria, governador de São Paulo. Parece não haver freio moral para as atitudes baixas e abjetas do homem que usa a faixa presidencial.
Observe, isso não é ficção. O presidente da República comemora a morte de um cidadão brasileiro (por suicídio) que possibilitou a interferência direta dele na Anvisa, para barrar a criação de uma vacina contra a doença mais mortal dos últimos cem anos, só porque ela está sendo desenvolvida com o aval de seu mortal desafeto.
O que veio na sequência foi um espetáculo perverso e nojento. Chamou a imprensa de urubus, afirmou que o Brasil é um país de "maricas" e tratou com um desprezo revoltante os mais de 162 mil brasileiros mortos pela Covid-19, dizendo que "todo mundo vai morrer".
Ato contínuo, já emendou seu descontrole com um assunto que o faz perder as estribeiras: a derrota de Donald Trump, por quem é perdidamente apaixonado, além de ser servo fiel e devoto. Lançou ainda bravatas contra Joe Biden e, acredite, fez ameaças militares aos Estados Unidos.
Nossos generais resmungam, submissos e inertes. Nunca estiveram tão desmoralizados.
Toda vez que olho para a situação caótica em que o Brasil se encontra, imediatamente penso nas milhões de pessoas que seguem apoiando abertamente, com orgulho, um dos seres mais repugnantes que já foram paridos sob a face da Terra.
Essa gente representa o último bastião de resistência que mantém Jair Bolsonaro no poder. Seu governo é um fiasco ridículo e retumbante. Sua incapacidade é constrangedora. Sua inteligência, nula. É inacreditável que em algum momento esse croqui das trevas tenha recebido mais de 57 milhões de votos.
Isso não é uma questão de conservadorismo, ou progressismo. Bolsonaro é a figura política mais nociva que já tivemos. Não ser capaz de nada, destilar um ódio psicopático permanente e agir com agressividade 24 horas por dia não é algo natural. Ninguém veio ao mundo para isso. Se o faz, é profundamente doente e mau. O ódio é a explicação.
Foi ódio, mas não só. Um dia, alguém há de explicar como Bolsonaro pôde arregimentar tanta gente tapada para virar dono do Brasil, fazendo o que bem entende com o país. Até lá, temos um longo caminho de humilhações.
Não há um só ser humano ao seu redor, com influência nesse circo romano que eles chamam de governo, que não coloque as asinhas de fora e também cometa atos dantescos e deploráveis, a começar pelos rebentos. O fantasma das rachadinhas assombra todo o clã. Foram décadas nessa brincadeira gostosa. Agora, é necessário um malabarismo frenético para se livrar da Justiça.
Seus filhos se comportam à imagem e semelhança da prole de Khadafi. Interferem diretamente no poder, nos assuntos do Estado, de forma pública e oficial, como se fôssemos uma monarquia absoluta ou uma ditadura personalista. Criam incidentes diplomáticos com nações amigas, usam o aparato público para se defender de inúmeras acusações criminais e financiam toda sorte de bandidos, mentirosos, assassinos de reputação et caterva.
Tudo fica cada dia mais turvo. Sei que há um caminho natural na História e que dele virá alguma solução num futuro próximo. Mas é insuportável aturar toda essa vilania, essa pirraça nojenta. E ainda por cima pagar a conta da página mais mórbida de nossa existência como nação.
Ele se diverte. Sua claque delira e se vê no espelho, excitada, cada vez que o boquirroto dispara suas agressões.
E quanto a nós?
Nós somos os trouxas. Vivemos debaixo da barraca da ignomínia, numa melancolia crônica que não tem fim.