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OPINIÃO
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Frequentemente ridicularizadas como “teoria da conspiração”, na atualidade as chamadas “false flags” (“Operação Bandeira Falsa”) assumiram um novo aspecto ao serem incorporadas às guerras extensivas por meios não convencionais: guerras híbrida e criptografada. Adquirem um novo estilo, agora irregular, como “operações psicológicas” (psy ops). Os três movimentos do xadrez do ataque à produtora da trupe de humor “Porta dos Fundos” (ataque, vídeo, e rápida identificação do “terrorista”) revelam muitos elementos similares aos não-acontecimentos dos ataques “terroristas” de Paris, Nice, Berlim, Londres, Estocolmo etc. nos últimos anos: sincronismo e timing, dilema midiático e consonância, rastros deixados para a identificação do “terrorista”, iconografia do terror e ambiguidade. A polícia investigará tudo para criar a narrativa conveniente. Menos uma coisa: o rastro do dinheiro.
Operações chamadas de bandeiras falsas (false flags) são (pseudo)eventos conduzidos por governos, corporações, indivíduos ou outras organizações para, através do impacto resultante da saturação midiática, responsabilizar um inimigo ou opositor para lucrar politicamente das consequências.
Essa hipótese é frequentemente ridicularizada como “teoria da conspiração” por ser excessivamente paranoica e provocadora de medos irracionais. Às vezes com razão. Mas muitas vezes justificada quando sabemos que há uma procedência histórica de episódios bastante discutidos por historiadores como o incêndio do Reichstag e a ascensão do nazismo na Alemanha em 1933 ou a documentada “Operação Northwoods” nos anos 1960 que pretendia reunir apoio a uma guerra dos EUA contra Cuba - os planos iam desde explodir navios da Marinha dos EUA até sequestrar aviões comerciais e derrubá-los, fingindo a morte de civis nos EUA – clique aqui.
Na atualidade, com os avanços tecnológicos que permitem ataques cibernéticos furtivos e técnicas de propaganda generalizadas, as false flags adotam um estilo irregular que se enquadram nos conceitos de “operações psicológicas” ou “psy ops”.
False flags foram incorporadas a estratégias mais extensivas de guerras por meios não convencionais – híbridas e criptografadas – através do bombardeio de informações dissonantes, contradições, desmentidos, provocações, desmentidos com o objetivo de saturar, isto é, ocupar a pauta midiática que reporta tudo pela narrativa do “governo polêmico” ou das “controvérsias”...
Desde o início, a estratégia de propaganda de Bolsonaro nunca seguiu o script de uma comunicação “civil” - relações públicas, publicidade, gestão de imagem etc. Segue o estilo de uma campanha militar de guerra, cuja logística objetiva causar desorientação, derrotar a vontade do oponente pelo medo, confusão, dissuasão.
Esse é o princípio da guerra moderna - sirenes acionadas, voos rasantes de aviões, mobilizações contínuas e constantes são mais eficazes que bombas reais – são bombas semióticas que causam pânico, desorientação pela fragmentação da percepção.
Também sabemos que o atual governo tem dois objetivos muito claros depois de um ano no poder: impor o receituário econômico neoliberal e apertar o gatilho do fechamento político do regime – fim do pacto com setores médios e pobres e da própria democracia liberal, além do governo ter plenos poderes para a contenção da insatisfação e violência das massas. Os dois objetivos estão intrinsecamente ligados e mutuamente dependentes.
Mas apesar da natureza imprevisível e propositalmente confusa da guerra criptografada, podemos encontrar uma regularidade, uma narrativa, um modus operandi – ambiguidade, coincidências, sincronismos, timing, iconografia, ou seja, há um método no caos: uma sistematicidade de movimentar os peões dos acontecimentos, liberar as informações para ocupar a pauta midiática e impactar opositores e a opinião pública, fazendo o adversário se movimentar sempre de forma reativa num tabuleiro com as casas previamente minadas.
Em postagem anterior discutíamos como o ataque à produtora da trupe de humor “Porta dos Fundos” foi mais um movimento do peão de acontecimentos cujo segundo movimento foi a divulgação de um vídeo propositalmente tosco e mal produzido (para emular os vídeos dos terroristas islâmicos cinematográficos e reais) de uma tal de “Comando de Insurgência Popular da Família Integralista Brasileira”.
Nesse segundo movimento estavam evidentes a lógica de um não-acontecimento false flag: ontologia invertida (confusão entre ficção e realidade - o vídeo era tão hilário quanto um esquete do Porta dos Fundos), efeito firehose, discurso ambíguo, macarrônico e hiperbólico: a estética cenográfica do terrorismo com um objetivo bem definido: criar a false flag Tabajara para justificar um Patriot Act Tabajara - clique aqui.
Com a virada do ano, o terceiro movimento (a rápida identificação do principal autor do ataque do nosso “Charlie Hebdo”) revela ainda mais elementos clássicos para o reconhecimento de uma false flag.
Então, vamos a eles: