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OPINIÃO
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“Entrevistado cativo”, “cosplay de povo”, “popular onipresente”, “entrevistado profissional”... Ele virou um hit nas redes sociais enquanto a grande mídia foi pega com as calças nas mãos – ele é a carta na manga de repórteres e a revelação do modus operandi do jornalismo atual: a “editorialização dos acontecimentos”. A fabricação de acontecimentos e entrevistas para cumprir uma pauta pré-elaborada pelas chefias de redação. Ele chama-se Henrique, aparentemente um entrevistado aleatório, mas sempre pronto para dar a opinião sobre qualquer assunto em diversos noticiosos da Globo Nordeste e em outras emissoras locais. Um “papagaio de pirata” (categoria organizada que caça links ao vivo de TV na busca de alguns minutos de fama) promovido a especialista em generalidades que sempre acerta na mosca sobre aquilo que a pauta espera que o “povo” fale. Henrique Filho é apenas a ponta folclórica de um fenômeno mais amplo: a produção de não-acontecimentos no jornalismo. Quer seguir carreira no jornalismo? Aprenda a confirmar as pautas confiadas a você pelos aquários das redações. Aprenda a encontrar a “notícia certa”.
Os leitores mais antigos do Cinegnose devem se lembrar do filme O Quarto Poder (Mad City, 1997), discutido em algumas postagens – um repórter em decadência de uma emissora local vê em uma crise de reféns em um museu a chance de cobrir um evento com repercussão em todo o país e ser promovido ao noticiário nacional da rede de Nova York.
Ele não medirá esforços para alcançar seu objetivo: no interior do museu vai manipular e controlar o desenrolar dos próprios acontecimentos para tornar o episódio local em um evento nacional. E catapultar o repórter para a emissora cabeça de rede.
Assim como em qualquer ambiente corporativo, o jornalismo é um campo hierarquizado, verticalizado, competitivo, no qual reportar notícias não é uma atividade neutra – principalmente porque a “notícia certa” pode projetar a carreira de um neófito.
Tal como no filme O Quarto Poder, é nas emissoras locais em que talvez fique mais explícita esse encontro da ambição com a busca da “notícia certa”. Principalmente no contexto do jornalismo em que o modus operandi dos anos de jornalismo de guerra (que culminou com a vitória do impeachment de 2016) levou à prática diária da “editorialização dos acontecimentos” – a fabricação de acontecimentos e entrevistas para cumprir uma pauta pré-elaborada pelas chefias de redação.
Esse é o pano de fundo do jornalismo atual (e em particular do jornalismo brasileiro) para compreender o episódio do “entrevistado aleatório” ou “entrevistado cativo” (ou ainda o “popular onipresente” e “entrevistado profissional”) flagrado por internautas numa amostragem de diversas entradas ao vivo não só de uma emissora da Globo Nordeste e também de outras emissoras locais de outras redes como a Record.
Virou um hit das redes sociais como uma espécie de carta na manga de repórteres naquelas pautas baseadas em enquetes rápidas feitas com populares nas ruas. Ele se chama Henrique Filho (ou será Souza?...) e, aparentemente, é capaz de opinar sobre qualquer coisa. A pauta é violência? Aparece o Henrique para opinar. Vista cansada? Lá está ele da rua fazendo perguntas para uma oftalmologista no estúdio do Globo Comunidade.