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OPINIÃO
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Glenn Greenwald não está seguro no Brasil. Como de resto não estão seguras lideranças políticas progressistas, militantes de causas, lutadores sindicais e de movimentos como MST e MTST e mesmo jornalistas que não beijam a mão dos ditadores de plantão.
Mas no caso de Glenn há um detalhe a mais. Ele se tornou odiado não só por políticos e milicianos, como também por procuradores, promotores e juízes por ter deixado nua a organização criminosa que operou a Lava Jato.
A denúncia do procurador Wellington Oliveira pelos crimes de associação criminosa e interceptação telefônica ilegal é a ponta de um iceberg que ainda está por se revelar.
Foi assim contra Lula.
E o que mais se ouvia quando a justiça iniciou os ataques ao ex-presidente era que seus algozes não teriam coragem de prendê-lo. E por um bom tempo Lula e seus amigos mais próximos acreditaram nisso. Glenn não pode incorrer no mesmo erro.
Lula ficou 580 dias na prisão. Foi torturado do ponto de vista psicológico. Entrou no cárcere logo depois de perder sua companheira de 40 anos de vida e saiu da cadeia depois de não poder ir ao enterro de um irmão querido e tendo tido apenas 30 minutos para se despedir do neto Arthur, de sete anos.
Lula comeu o pão que o diabo amassou em Curitiba. É altivo e por isso não fica reclamando nas entrevistas que concede.
Glenn não pode imaginar que será diferente com ele se não tomar todos os cuidados que sua dupla cidadania lhe permite. Se é verdade que a prisão de Glenn escancararia ao mundo a ditadura Bolsonaro, também é verdade que ela não provocaria uma revolução no Brasil.
Se Glenn for preso amanhã, haverá uma grita aqui e ali e talvez se produza um acordo para que ele seja deportado. Dificilmente haverá algo a mais do que isso.
Por outro lado, Glenn é hoje o símbolo da liberdade de imprensa no Brasil. Se passarem do limite com Glenn, avançarão sem dó e nem piedade sobre todos nós.
Glenn é aquela linha no chão, aquela demarcação simbólica que separa a paz da guerra.
Por isso ele não pode enfrentar sozinho esta batalha. Ela precisa ser de todos aqueles que acreditam que é fundamental a democracia no Brasil. Ela precisa se tornar uma causa de todos os jornalistas que se prezam.
Colunistas, comentaristas, repórteres, apresentadores, locutores, blogueiros, youtubers, editores etc. Um movimento em defesa de Glenn com declarações claras e fortes precisa ser criado urgentemente.
Outros segmentos da sociedade precisam se mobilizar, mas os que pisam neste chão da liberdade de imprensa como atores principais, precisam fazer algo mais.
A situação é mais dramática para Glenn do que alguns imaginam e ontem, de alguma maneira, a entrevista do ministro da Justiça, Sergio Moro, no Roda Viva, deixou isso claro.
Em todos os momentos Moro se referiu a Glenn como um criminoso.
A denúncia do procurador que pede a cabeça de Glenn é um resumo do discurso do ministro algoz na noite de ontem.
Não é algo isolado. Não é um acaso. Não é um ataque sem consequências.
As hostes de Moro e Bolsonaro querem o sangue de Glenn.
Cabe a nós entender que o sangue dele também é nosso.