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OPINIÃO
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O ponto alto da entrevista do ex-presidente Lula à TVT foi sua pregação por uma maior participação política do PT nas ruas para construção de uma nova política econômica distributiva de renda.
Se o PT é o maior partido de esquerda brasileiro e da América do Sul, Lula é hoje a maior liderança política que luta em nome da soberania nacional e é quem pode apontar para o caminho da (re)industrialização, por meio da qual seriam gerados empregos de qualidade e a renda per capita seria elevada.
A sociedade não pode se conformar com a volta da fome aos lares das famílias depois de tê-la vencido nos governos Lula e Dilma, mediante uma estratégia econômica desenvolvimentista e emancipadora.
A defesa das riquezas minerais, da industrialização, da capacitação profissional, da elevação da renda per capita, do emprego e salário do povo, da justiça social - tudo isso - são pressupostos fundamentais da luta por uma soberania que Bolsonaro desdenha.
Liderança internacional
Lula confirma sua estatura de líder nacional e internacional ao criticar a subserviência bolsonarista, que fez o Brasil se render a uma (anti)política econômica, cuja ênfase exalta um empreendedorismo, que não passa de descaracterização e desmoralização do mercado de trabalho e dos trabalhadores e trabalhadoras.
O emprego está descolado de garantias sociais e trabalhistas e submetido à uma política salarial regressista, que “corrige” salário abaixo da inflação, sem nenhuma reposição consequente ao crescimento do produto interno bruto.
Destituídos de direitos - trabalhadores e trabalhadoras viram “empreendedores” sem escolha, uberizados. Soma-se a desindustrialização à política econômica antinacional e tem-se o resultado de 150 mil brasileiros e brasileiras que se mudaram para Portugal nos últimos três anos.
A fome transforma o horizonte do país em sombrio, isso acompanhado da fuga de capital que restaura a verdadeira economia escravocrata que vigorou no século XIX. A regressão salarial, somada ao imposto regressivo que massacra o poder de compra dos mais pobres e ao sistema tributário concentrador de renda, aprofundam o subdesenvolvimento e destroem a soberania nacional.
Em meio a tudo isso, Lula articula resistência democrática à destruição da soberania com um pedido pela união dos partidos de oposição, de modo a enfrentar a eleição municipal de 2020 e a presidencial de 2022. O pleito deste ano é fundamental para vencer a falsidade fundamentalista, reacionária e ultraliberal, que engana e humilha os trabalhadores e trabalhadoras.
Nova geopolítica para o Brasil
O ex-presidente articula também uma política externa paralela ao Brasil. Recentemente, publicou artigo na primeira página do jornal britânico “The Guardian” e receberá homenagens da capital francesa Paris. Visitará também Berlim, Londres e Roma, onde poderá se encontrar até mesmo com o Papa Francisco para discutir como enfrentar o problema da fome no mundo, tema que é caro para as duas lideranças.
Bolsonaro abriu frentes de discórdia com os principais parceiros políticos e comerciais brasileiros e as consequências disso deverão ser o comportamento negativo do comércio externo, como aconteceu em 2019, quando houve suspensão de contratos, alertas de conflitos bilaterais e equívocos geopolíticos perigosos, que já afetam a soberania nacional.
A política externa, rendida à pregação ideológica e fundamentalista, destituída de todo o pacifismo característico, ou mesmo do pragmatismo, afeta os setores dinâmicos da economia brasileira - especialmente o agronegócio - dos mercados compradores, como os do Oriente Médio e chinês, aos quais, ao longo do ano passado, o Brasil cuidou de agredir em vez de agregar.
Desvio da realidade
A base de ação política de Lula, focada na defesa da soberania, proporcionará, sobretudo, superação de controvérsias ideológicas desnecessárias, como as que acontecem no campo religioso, fomentando fanatismos fundamentalistas; eles desviam a sociedade do objetivo maior que é perseguir uma política econômica que vença os principais problemas nacionais: o desemprego e a desigualdade social.
O bolsonarismo ideológico cuida de afastar o Brasil da condição de estado-laico, algo que já havia sido superado na Proclamação da República, em 1889. As pessoas têm religião, por isso o estado deve ser laico, justamente para garantir o pleno e livre exercício de todas as religiões! O preconceito do presidente foge do que é essencial e virou arma para fugir da realidade.
Assim, o ultraliberalismo radical de Paulo Guedes prolonga-se, interminavelmente, em um modelo antidesenvolvimentista, concentrador de renda e promotor da desigualdade social, inimigo maior da soberania nacional. Para ser aplicado integralmente foi preciso um cruel golpe militar no Chile, em 1973, que sufocou a democracia e a Constituição daquele país.
Lula tocou nos pontos chave. Está atualizado quanto às demandas que afligem o povo e, principalmente, para primeiro entender a nova classe trabalhadora que emerge para, aí sim, poder representá-la à altura.