“Requalificação”, “manutenção”. Assim o prefeito Bruno Covas vem justificando a retirada da pintura em vermelho das ciclofaixas da cidade de São Paulo. De repente incensado pela imprensa progressista como “moderado” e “conciliador”, com esses neologismos Covas na verdade requenta a querela do “vermelho subliminar do PT” das ciclofaixas do prefeito Haddad, como alertou em 2014, imbuída de urgente “dever cívico”, a professora de Semiótica da PUC/SP, Lúcia Santaella. Não importa se a cor é uma convenção internacional justificada pelas pesquisas de percepção visual. A uberização dos desempregados em bikes de entregas de comida por aplicativos e os transportes alternativos de start ups tecnológicas, colocaram em evidência as ciclofaixas. Por isso, se faz necessário uma “limpeza semiótico-ideológica” dessas vias. E dar mais um lance no xadrez da atual guerra semiótica criptografada, para manter em constante estado de beligerância e adrenalina alta as milícias digitais e físicas dentro do sombrio projeto político do clã Bolsonaro.
Lentamente, dia-a-dia, passo a passo, a cada rompante politicamente incorreto da trupe de ministros; em cada “flash mob” incitando manifestantes de verde e amarelo saírem nas ruas aos domingos pedindo o fechamento do STF por um cabo acompanhado de um soldado; em cada “live” do presidente destilando paranoia contra ONGs, um suposto globalismo de esquerda e desdenhando esposas de mandatários de outros países; a cada comando cifrado, de ministros ou do próprio capitão da reserva dublê de presidente, para por em ação as milícias digitais e físicas; tudo isso sugere que por detrás dessa guerra semiótica criptografada esconde-se um projeto político que ainda poucos estão se dando conta.
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil[/caption]
Sem nenhum projeto de desenvolvimento econômico ou social sustentável, a não ser a entrega do Estado e patrimônio público na xepa do mercado, percebe-se nitidamente que o clã Bolsonaro governa apenas para os seus – a própria família e seus agregados facilitadores das operações financeiras de “embranquecimento”. O Clã sabe que não chegou ao poder para implantar algum projeto de crescimento ou inclusão, mas para por em ação uma estratégia de ocupação, desmantelamento e destruição.
Núcleo duro
Por isso, para o Clã a campanha eleitoral não acabou: precisa manter o “núcleo duro” (os em torno de 30% da opinião pública de extrema-direita que, aconteça o que for, sempre ficarão ao lado do “Mito”) em constante estado de beligerância e adrenalina elevada para responder a comandos de ataque.
O niilismo político dos Bolsonaro pressente que há uma grave crise se aproximando. E na hora da explosão social decorrente do crescente estado de empobrecimento, desemprego e desalento, o Clã somente terá de contar com milícias e a extrema-direita da sociedade, convertida e grupo de choque – minoritário, mas capaz de apertar o gatilho da violência e guerra civil, objetivo tático da geopolítica norte-americana: a destruição de qualquer possibilidade remota de o Brasil um dia se tornar liderança política e econômica regional.
Nessa perspectiva compreende-se o porquê da estratégia de exortar, arregimentar a tropa e manter o moral elevado do seu “núcleo duro” de adoradores do “Mito” – Bolsonaro até agora não iniciou o seu governo, e nem pretende. Sua retórica de ataque e informações desconexas e contraditórias (criptografadas) quer manter a mesma atmosfera de propaganda política.
Mas não só ele. Há um eixo, por assim dizer, vertical daqueles que só chegaram ao poder pegando carona na onda neoconservadora como o governador de São Paulo “Bolsodoria” (a suposta crise de João Doria com Bolsonaro é mais uma das táticas criptografadas para embaralhar o cenário político) ou Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro.
Na cidade de São Paulo, importante enclave conservador no projeto de mobilização permanente de Bolsonaro, está o atual prefeito e ex vice de Dória, Bruno Covas. Que, de repente, passou a ser incensado pela imprensa progressista como aquele que está “na contramão do discurso agressivo antipetista”, um “prefeito jovem que busca diferenciar-se com perfil mais moderado e conciliador”, como afirma a revista Carta Capital –
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A ameaça do “vermelho subliminar”
Pois esse “jovem conciliador e moderado” (como Doria, mais interessado em lances simbólico-midiáticos do que em projetos metropolitanos de crescimento ou inclusão) deu mais um lance no xadrez da guerra criptografada comandada de Brasília como espécie de correia de transmissão: numa primeira etapa, a prefeitura mandou retirar a pintura vermelha de onze ciclofaixas.
Retoricamente, a Prefeitura (e a grande mídia) chama de “obras de manutenção”, “requalificação” ou “novas ciclofaixas” – na verdade, deixar a ciclofaixa com a cor do asfalto, separada do trânsito apenas por uma linha branca e vermelha.
Quando as ciclofaixas e ciclovias começaram a ser pintadas de vermelho durante a gestão de Fernando Haddad, houve quem dissesse que tudo não passava de “propaganda subliminar” a favor do PT. Era o início da onda antipetismo e do jornalismo de guerra que culminaria com o Impeachment em 2016.
Um dessas pessoas foi a conhecida especialista em semiótica e professora da PUC/SP, Lúcia Santaella: “uma descarada propaganda vermelha do PT, provavelmente encomendada do diabo em pessoa”, publicou em seu perfil do Facebook em setembro de 2014. E recomendava que o prefeito estudasse Semiótica para estudar “os efeitos da poluição visual que pune olhos e mente”. Na época, este
Cinegnose prontamente rebateu esse pré-julgamento político (travestido de Ciência) da eminente pesquisadora utilizando a própria Semiótica –
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Primeiro lugar o aspecto técnico. Além da cor vermelha ser uma convenção internacional para tornar visível a diferença entre a via dos automóveis e das bicicletas, ela está prevista no Código Brasileiro de Sinalização de Trânsito, aprovado em 2007 e que revogou os padrões anteriores, de 1986.
A cor vermelha está entre as cinco cores mais rapidamente percebidas pelo olho humano a uma distância de 180 metros: amarelo âmbar, amarelo fluorescente, laranja, laranja fluorescente e vermelho.
“A chave do sucesso é tornar a diferença [entre a via dos automóveis e a das bicicletas] absurdamente visível para todos. O vermelho é muito melhor do que o branco”, observa o professor Antônio Rodrigues da Silva, da Escola de Engenharia de São Carlos da USP –
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