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OPINIÃO
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Precisamos discutir quais são os valores que nos inspiram. Quais são as nossas referências? No âmago de cada um de nós, antes de tomarmos uma decisão, consideramos, pesamos, analisamos as consequências de nossas ações. Para isso, temos interiorizados princípios, costumes, ou regras. A moral é uma construção social e histórica. Portanto, se transforma. Mas isso não permite concluir que os socialistas não defendem conceitos morais.
Ao contrário, temos muitos compromissos éticos. Reconhecemos obrigações nas relações de uns com os outros. Honestidade é sinceridade e honradez. Responsabilidade é maturidade e seriedade. Solidariedade é fraternidade. Perseverança é abnegação e resiliência. Cortesia é gentileza e delicadeza. Flexibilidade é tolerância e respeito. Defendemos o desprendimento contra o egoísmo, a generosidade contra a cobiça, a paciência contra a raiva, o altruísmo contra a inveja, o empenho contra o desleixo, e a humildade contra a vaidade.
Mas não reduzimos nossa militância a uma cruzada moral. Porque defendemos que o que está errado na sociedade não é a maldade humana, mas o capitalismo. Não é a corrupção e a desonestidade, mas o capitalismo. Não é o egoísmo e o mau-caratismo, mas o capitalismo.
Não somos seguidores dos dez mandamentos da Idade do Bronze. Respeitamos a tradição das civilizações antigas do Mediterrâneo Oriental que elegeram os sete pecados capitais. Mas o discurso moral de condenação da gula, luxúria, avareza, ira, inveja, preguiça, luxúria e, sobretudo, do orgulho, respondeu, historicamente, nos últimos dois mil e quinhentos anos, às necessidades de controle social. Não é um programa político.
O caminho da transformação da sociedade é a luta social e política dos trabalhadores e dos oprimidos contra a burguesia. Não a luta das pessoas boas e decentes contra as pessoas ruins e malvadas. Acontece que esta visão de mundo é minoritária, inclusive entre os explorados. Portanto, sofremos a imensa pressão de ideologias muito poderosas, e com grande influência popular, porém, incompatíveis com a luta contra a propriedade privada e o capital.
A percepção entre as amplas massas de que não é possível mudar a sociedade repousa em muitos fatores. Os objetivos, como a força da riqueza e o controle do poder são, extremamente, poderosos. Mas há também fatores subjetivos que são o centro da disputa ideológica. Esta luta é uma luta de ideias. Mas é, também, um combate contra os aparelhos que perpetuam ideias que perpetuam a resignação, insegurança, indecisão e incerteza das massas sobre si próprias. Aparelhos que incentivam o acomodamento e a submissão, a prostração e o fatalismo. E nada é mais desmobilizador do que a ideia simples, porém, devastadora, de que não vale a pena lutar, porque as pessoas não prestam. A disputa ideológica nos remete, portanto, aos valores que devem inspirar nossa militância.
Militância não é voto de pobreza, é uma oferta, uma doação. A teologia ou idealização do sacrifício como um caminho para a paz é uma premissa religiosa, não socialista. Não defendemos o ascetismo. Desapego não é renúncia, dedicação não é purificação, austeridade não é virtude. Não condenamos a ambição. Ter aspirações pessoais é legítimo. Criticamos a rivalidade. O comedimento, a simplicidade, e a sobriedade não são auto-mortificação. Desprezamos a ostentação. Mas a frugalidade só é virtude contra a futilidade. Não somos uma fraternidade de estoicos. Somos um movimento social e político de pessoas normais. Portanto, imperfeitas.
A militância não é voto de castidade. Não pode ser renúncia ao desejo, nem desinteresse ou indiferença erótica, nem defesa do celibato, ou da fidelidade.
A militância não é voto de obediência contra o orgulho e a vaidade.
Quem defendia voto de pobreza, castidade e obediência eram os jesuítas.
Não são as nossas bandeiras.