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OPINIÃO
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Vivemos tempos de muitos medos. Todo mundo está com medo de alguma coisa. Em tempos de retirada de direitos, com um governo que joga a democracia no ralo, as pessoas têm medo da violência, de suas próprias cidades, de simplesmente andar nas ruas. O direito à cidade é interditado, principalmente diante de um projeto político altamente militarizado. E a esses medos se somam o de ficar desempregado, de não conseguir pagar o aluguel e as contas e de não se aposentar.
Esses medos continuam rondando uma parte da sociedade brasileira. Mas, de um tempo para cá, um outro tipo de medo ganhou mais espaço entre essas pessoas: um medo chamado Marielle Franco. Sim, Marielle personifica todos os medos que este grupo social tem em relação às suas moralidades e aos seus padrões de vida e de família. Sua execução se deu exatamente em uma conjuntura de ataques aos direitos e movimentos em defesa de igualdade para as mulheres, populações negra e LGBTI.
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A figura pública de Marielle enfrentava tudo isso, com sua voz, sua história e seu corpo. Fosse por meio de seus projetos, das suas intervenções ou da simples existência da nossa família. Por isso, hoje, 17 meses após seu assassinato, as pessoas ainda têm medo do que ela representa e de sua imagem.
Em nome disso, quebram placas com seu nome, vandalizam painéis de arte, divulgam fake news, em nome de uma política do ódio. Arrancam calendários com sua foto da sala de professoras universitárias, perseguem e demitem quem ousa “incomodar” com a presença de sua imagem. É novamente a tentativa de calá-la. De nos calar.
A quem interessa provocar o medo por uma educação libertadora e inclusiva que ensine sobre justiça e solidariedade? A quem interessa perseguição aos professores e estudantes? A quem interessa o corte de quase 40% dos investimentos públicos das universidades e dos institutos federais?
Marielle representa um projeto comprometido com o combate à desigualdade, com a população mais pobre, favelada, de mulheres, de negros e negras e LGBTIs. Ela fala por muita gente, por nós. Seu nome, seu rosto e sua história evidenciam todos os dias o que essas pessoas querem esquecer: racismo, machismo, LGBTIfobia e preconceito de classe. E levam a ações extremas de perseguição à sua imagem e a todos e todas que compartilham do mesmo projeto que ela, ou seja, que lutam por uma sociedade justa, sem qualquer tipo de discriminação.
Para os que estão sendo perseguidos, como as professoras na Universidade Estácio de Sá, nossa solidariedade e a certeza de que somos muitas, de que não estão sós. A instituição será cobrada, assim como todos os que vêm tentando apagar ou deturpar a imagem de Marielle. Se quebram uma placa, milhares faremos. Se rasgam um calendário, milhares serão feitos. Se tentam nos calar, milhares de vozes serão levantadas. Resistir é o que melhor sabemos fazer, é o que nos faz existir. Marielle não será interrompida.