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OPINIÃO
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Jair Bolsonaro venceu as eleições sustentando um conceito que tem como objetivo descaracterizar o trabalhador: “cidadão de bem”. Este conceito foi fundamental para estabelecer um acordo entre o candidato e seus eleitores. A corrupção seria combatida (a nomeação de Moro como ministro deu força a esse projeto), mas, em contrapartida, os direitos trabalhistas seriam espoliados.
O trabalhador, não se reconhecendo como trabalhador, foi facilmente seduzido por esse discurso e hoje vemos o desmonte das conquistas trabalhistas e nada indica que a corrupção terá um fim real. Ou seja, apenas um lado do acordo foi cumprido.
O conceito de cidadão de bem foi mais uma vez forjado para enganar a maior parte da população que deu poder a um “bando de louco”. Quantas vezes isso já aconteceu na história?
O capitalismo promove maneiras convincentes e atrativas para que o trabalhador não se reconheça como tal. A indústria cultural, como um todo, investe intensamente nesse processo. O narcisismo consumista a auxilia. As esquerdas, por seu turno, também contribuíram para essa questão adotando pautas identitárias desvinculando tais questões da exploração capitalista.
Se o trabalhador se reconhecesse como tal, primeiramente como classe em si e depois como classe para si, seu interesse em melhorar suas condições de trabalho estaria na frente de qualquer outro interesse. Hoje ele não dá a mínima para o fato de que trabalha de graça a maior parte do tempo, pois é convencido de que deve fazer a empresa crescer para crescer junto com ela. Não entende que quanto mais tecnologia é introduzida em seu local de trabalho, mais veloz é a produção da mercadoria que produz e, portanto, o seu tempo de trabalho deveria reduzir. Mas, pelo contrário, há sempre mais trabalho. Quanto mais progresso há na empresa, mais explorada é a sua mão de obra. O problema não é a tecnologia, mas o emprego capitalista da mesma! Que o aumento do seu salário é, na verdade, aumento da exploração, pois jamais existiu ou existirá repartição de lucros.
Esse dia do trabalhador deve ser importante para refletir sobre tais questões. Pensar no trabalho em si, não como um intervalo entre o ser e seu objetivo pessoal. Desta maneira, seria possível pensar melhor no impacto do que se produz. Se causa mal ao organismo humano, se causa mal ao meio ambiente. Pois estas questões e as tentativas de solucionar tais problemas, não partirão do capital, como sabemos. “O capital, que tem tão ‘boas razões’ para negar os sofrimentos de gerações de trabalhadores que o circundam, não se deixa influenciar, em sua ação prática, pela perspectiva de degenerescência futura da humanidade e do irresistível despovoamento final. Tudo isso não o impressiona mais do que a possibilidade de a Terra chocar-se com o Sol”.[1] Vemos isso claramente nas piadas que Trump faz sobre o aquecimento global e as liberdades que o governo Bolsonaro vem dando ao uso de agrotóxicos.
É da classe trabalhadora que nascerá a consciência para uma relação mais harmoniosa com a natureza e para com o ser humano, não dos grandes investidores que só visam o lucro. E esperar pelos homens de toga também seria um desperdício de tempo já que estão do lado dos interesses do mercado.
Enquanto houver barreiras (altas, mas jamais intransponíveis) servindo de obstáculos para que os trabalhadores pensem em si, quando deixarem de trabalhar para ser mais do que compradores de máscaras sociais que alimentam ainda mais a máquina que os explora, será possível pensar em uma sociedade mais justa, em uma melhor relação entre os seres humanos consigo mesmos e com a natureza. Abaixo o cidadão de bem! Trabalhadores, uni-vos!
[1] MARX, K. O Capital: crítica da economia política: livro 1, v. 1. Trad: Reginaldo Sant'ana. 30 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. P. 311.