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OPINIÃO
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No filme Batman: O Cavaleiro das Trevas o Coringa enfrenta um interrogatório na delegacia. Ele tem um ar de enfado e deboche e responde com evasivas para o comissário, que acaba tirando as algemas do Coringa. “Ah!... a velha rotina do policial bom e do policial mau...”, ironiza o sombrio palhaço do crime, como se antecipasse cada passo do jogo do interrogatório.
Nos filmes hollywoodianos essa é o mais manjado clichê dos filmes policiais: a dupla “bad cop”/“good cop”, com algumas variações como, por exemplo, a dupla policial engraçado/sério. Assim como Dom Quixote e Sancho Pança.
É simplesmente incrível que poucos ainda tenham compreendido que nesses 100 dias de governo Bolsonaro, a tática semiótica de “modo campanha” emula essa narrativa hollywoodiana, centrada na dupla Bolsonaro/General Mourão – enquanto o presidente pira, o vice-general baixa a bola e, de repente, vira o centro da racionalidade de um governo supostamente formado por malucos no qual todos parecem bater cabeças uns nos outros.
Demonstrando um desesperado wishful thinking (como se procurasse qualquer vesga de luz nas trevas), alguns acreditam que o “antídoto contra o Bolsonarismo” é deixar o próprio falar para tropeçar na própria paranoia e delírio.
Outros veem tanta inexperiência ou inapetência na articulação política que acham que este governo ruirá sozinho por não conseguir entregar ao “mercado” (para ser mais preciso, a banca financeira) aquilo que prometeu. Alguns até ficam alegres ao verem a queda da Bolsa e disparada do dólar a cada derrota de Bolsonaro no Congresso, ensaiando um “quanto pior melhor”.
[caption id="attachment_172781" align="aligncenter" width="597"] Sem tesão para defender a Reforma da Previdência[/caption]
Um dos que melhor está compreendendo esse “modo campanha” do atual governo é o professor da filosofia da Unicamp, Marcos Nobre, que em seu artigo na revista “Piauí”, na edição de abril, sintetizou tudo no título: “O Caos como Método”.
O “modo campanha” desses 100 primeiros dias demonstrou que o cerne da guerra semiótica desse governo é produzir abordagens indiretas, dissonâncias e estratégias criptográficas. Bolsonaro vive do caos das instituições.
Como vem demonstrando seu pouco “tesão” para defender no Congresso a reforma da Previdência de Paulo Guedes. Bolsonaro não quer fazer política de governo e nem articulações no Congresso: como demonstram seus tuites, é só Exército e Judiciário. Meganhagem, Lava Jato, shows televisivos com policiais federais nas ruas e, agora, a canalização da crise no STF: ruir a credibilidade dos supostos “guardiões da Constituição”.
Em outras palavras: Bolsonaro quer cercar o Congresso não com tanques de guerra, como fez a antiga ditadura militar. Mas corroer até o osso a política, ou a “velha política” como repete o capitão da reserva, jogando a opinião pública contra o inimigo: o Congresso, formado por petralhas, corruptos e os seus inexperientes políticos do PSL – aqueles que aproveitaram o “vendaval Bolsonaro”, foram eleitos e caíram de paraquedas nas casas do Congresso sem entender minimamente as medidas corriqueiras e liturgias que dão suporte parlamentar.
Como ficou demonstrado no comportamento dos políticos do PSL no depoimento do ministro Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
O “modo campanha” desses 100 primeiros dias, com o luxuoso apoio indireto da grande mídia, apresentou o seguinte modus operandi: