A doença do capitalismo

Marcelo Hailer, em novo texto para a Fórum: “O Estado de São Paulo, governado há 26 anos pelo PSDB, está em calamidade pública por conta da forte chuva que caiu. O governo tucano corre para dizer que a culpa é da chuva, mas sabemos que não é”

Foto: Reprodução/YouTube
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Diariamente saio para caminhar por volta das 7h/7h30, atualmente vivo em um bairro de classe médica falida na zona leste de São Paulo, a Vila Prudente, no caminho que faço para chegar até o parque onde realizo atividades físicas, passo por duas importantes avenidas que ligam a ZL com o resto da cidade de São Paulo: Av. Vila Ema e Av. Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello. É simplesmente um cenário apocalíptico o estado dessas avenidas pela manhã – hoje em dia em qualquer horário – mas pela manhã se amontam carros, ônibus superlotados, muita buzina e fumaça... Tenho certeza que 99% das pessoas estão no meio desta barbárie obrigadas e o nome disso é capitalismo. E hoje, segunda-feira real oficial pós-carnaval, a barbárie já se deu logo na porta de casa quando, pelo motivo de um carro subir a rua na contramão e o outro veículo que vinha na mão indicada pela placa teve um surto e começou e xingar o motorista que vinha na contramão. Fiquei imaginado o estado mental dessas pessoas logo cedo e o resto de seus respectivos dias, sejam aquelas que trafegam em veículos particulares, sejam aquelas que trafegam em veículos coletivos. A cidade a construção da doença mental Na Vila Prudente se dá o fato de ser um bairro muito antigo, estreito e que foi se planejando, ao longo de sua história, em torno de casas e de alguns parcos edifícios. Esta situação se inverteu nos últimos dez anos: as antigas casas foram demolidas e deram lugar a enormes construções/edifícios, porém, o bairro não comporta o número de pessoas que hoje vive por aqui, logo, caos e barbárie nas vias internas. Sem contar que, quando chove, enchente. Esse processo não é exclusividade da Vila Prudente, ele também se dá com os bairros Parque São Lucas e São Mateus (ambos na zona leste); cabe lembrar que este mesmo processo destruiu bairros como o Tatuapé e Vila Alpina, enfim, toda essa gente desemboca parte na Av. Vila Ema e parte na Av. Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello para poder chegar na região central ou Jardins da cidade de São Paulo. O modelo de vida que o capitalismo produz nas cidades simplesmente não pode continuar, pois, ele vive de curar e adoecer as pessoas: vou ao médico, este me receita psicotrópicos para acalmar, desta maneira toda uma indústria ligada à questão da ansiedade e da depressão se retroalimenta desta situação barbárica das grandes cidades, mas que também começa a atingir as cidades de porte médio. Mas como convencer os cidadãos de que terão de abandonar este modelo de vida se quiserem viver melhor? Um novo modelo de sociedade A extrema direita, e não apenas no Brasil, começou a ganhar espaço e entrou em ascensão quando apostou na vida cotidiana da classe média brasileira. Mas, a vida da classe média brasileira não melhorou e deve piorar ainda mais nos próximos anos. Soma-se a isso o fato de que vida na cidade se tornou insuportável por conta dos governos liberais e ruins e da política de gentrificação do espaço urbano, como relatado acima. A questão é: o governo Haddad frente à prefeitura da cidade de São Paulo e depois, na sua tentativa de reeleição, tentou comunicar isso ao eleitor paulistano, mas não deu certo por N motivos. Porém, essa é uma tarefa que a esquerda – acadêmica, partidária, dos movimentos sociais, da cultura etc. – vai ter que realizar e fazer o cidadão médio entender que o modelo de vida atual só produz doenças mentais e trabalhos precarizados e que isso tem um nome: capitalismo. E no momento em que encerro este texto o Estado de São Paulo, governado há 26 anos pelo PSDB, está em calamidade pública por conta da forte chuva que caiu sobre o estado paulista. O governo tucano corre para dizer que a culpa é da chuva, mas sabemos que não é. A culpa é da gentrificação da cidade que enfia carro em cima de carro, libera condomínios gigantescos em bairros antigos, acumula sujeira que as prefeituras e governo estadual não dão conta e que resultam nestas enchentes e tragédias que estamos acompanhando. Não é a chuva, nem a ansiedade, mas sim o capitalismo que produz todo esse cenário de horror. É isso que precisamos traduzir para o conjunto da sociedade. O capitalismo, além de ser um modo de produção, é uma doença.

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