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OPINIÃO
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Gente, falar do coiso cansou. Parece que é uma coisa planejada para que, em vez de oposicionistas pensarem em fazer oposição pra valer, fiquem só repercutindo as barbaridades que ele fala. E como cansei das falas dele, resolvi escrever sobre outras “falas” que não gosto. Vamos variar! Então, lá vai.
Fronha! Eis aí a palavra que durante muito tempo achei mais feia da língua portuguesa.
Gozado que basta mudar a primeira letra dela para se tornar uma palavra bonita: bronha. A sonoridade muda, não é?
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De qualquer maneira, fronha é uma palavra que não dá para a gente evitar. Uma vez estava disposto a não pronunciar a dita-cuja quando precisei comprar dois pares dela, falei “aquela capa para o travesseiro”, e a vendedora respondeu, me olhando como se eu fosse de outro planeta: “Ah... fronha?”. E dessa palavra derivou o verbo “enfronhar”!
Não gosto da sonoridade de certas palavras, de outras não gosto do significado. Algumas juntam os dois defeitos. É o caso de “gentrificação”, palavra que entrou no vocabulário brasileiro há pouco tempo, simbólica de um capitalismo em que a especulação imobiliária é mais cruel do que muita gente imaginava.
Aí vão umas feiuras, pro meu gosto: “Não ficou a contento” já é uma expressão antiga, que felizmente não ouvi mais. A contento! Argh! Regozijo! Alvíssaras! Juvenelizante! E cônjuge! O ex-justiceiro-mor, hoje enfeite do governo Bolsonaro, conseguiu piorar: é conje!
Enrolações
Duas expressões me doem no ouvido: não se adéqua e firma idônea. Existem outras, de que não me lembro agora. Ah... Envidando esforços. Quando ouço algum político ou “técnico” falando que está fazendo ou vai fazer isso, já sei: não vai fazer coisa nenhuma.
“Veja bem” não é uma expressão feia, mas quando alguém a usa já sei também que lá vem enrolação. Vai tentar nos enfiar argumentos fajutos (outra palavra feia) goela abaixo. Nessa linha, uma palavra que me irrita é “inverdade”. Parece que quando se tornam políticas as pessoas têm a mania de usar eufemismos, e nesse caso têm medo de falar que o sujeito está falando uma mentira, que é mentiroso.
Aliás, certos eufemismos são irritantes, parte deles confundidos com o “politicamente correto”. E, por falar nisso, os exageros do “politicamente correto” irritam. Chamar cego de deficiente visual, velhice de terceira idade (pior ainda é melhor idade)... e por aí vai.
Afrodescendente é uma expressão bem aceita por pessoas que eu gosto, mas não me agrada muito. Gosto, respeito e apoio o Movimento Negro (já nos anos 1970, no jornal Versus, tínhamos o Movimento Negro Unificado como parceiro) e, embora branquelo, me sinto ligado à causa. Tanto que escrevi um livrinho sobre Luiz Gama. Negro é uma palavra com significado poderoso, do meu ponto de vista.
A causa indígena é outra que me atrai. Tem quem diga que não podemos usar a palavra índio, tem que ser indígena. Escrevi em parceria com o Ohi um livro a que demos o título Palavra de Índio. Nome forte, sonoro e significativo, para uma coletânea de expressões da língua tupi. Para publicar, precisamos mudar o nome. Não podia entrar a palavra índio, criada pelo colonizador. Usar indígena não é trocar seis por meia dúzia? E Palavra de Indígena não tem força, não tem graça, não é? Não teve jeito. Acabamos mudando para Paca, tatu, cutia... Glossário Ilustrado de Tupí. Curioso, procurei uns livros infantis de Daniel Munduruku, escritor e consultor da Editora Melhoramentos sobre tudo que se relacione à questão indígena, e vi nele a palavra índio direto. Por que não podemos usar?
Então, não podendo usar a palavra negro nem índio, quando tenho que me identificar como etnia, digo que sou eurodescendente de coração cafuso.
Questão de gosto?
Quando algumas pessoas querem falar com uma certa graça sobre coisas de muito tempo atrás, dizem “de antanho”. Não gosto, me dói no ouvido também, embora eu conheça muita gente que goste da expressão.
Como caipira assumido, uso expressões caipiras ou com sotaque caipira, como – por exemplo – não colocar o R no final dos verbos. Mas mesmo este meu lado caipira acha muito estranhas algumas mudanças de gênero. Por exemplo: quando alguém fala “o alface”. Expliquei muitas vezes a uma garçonete que alface é no feminino, a alface, mas não teve jeito. E para piorar, um dia que pedi uma feijoada ela preveniu: “Acabou o couve”.
No estado de São Paulo é muito comum pronunciarem um “e” onde não existe vogal, depois de uma consoante. Advogado vira adevogado (e tem profissionais do ramo que se dizem isso). Edgar, para eles, é Edegar. Tive um ótimo professor de matemática no curso técnico de contabilidade que ditava os problemas assim: “Para se obeter o valor de um obejeto...”.
De bem?
Voltemos a algumas expressões que me irritam. Uma é cidadão de bem, ou pessoa de bem. Quem fala isso, se colocando como tal, geralmente é o tipo de gente que para mim não tem nada de “do bem”. Há escravagistas, grileiros, racistas, fanáticos religiosos, preconceituosos de todos os tipos e péssimos patrões que se dizem cidadãos de bem.
Falando em patrões, os patrões e seus executivos metidos a moderninhos chamam os empregados de colaboradores. Empregada doméstica, fazem pose de bonzinhos e chamam de secretária.
Uma coisa mais ou menos recente é o tal empreendedorismo. Desempregado que tem que se virar ganhando uma merreca é chamado de empreendedor.
Até a Irmã Dulce, no dia em que se tornou Santa Dulce dos Pobres foi classificada como empreendedora pela deputada Tabata Amaral. A deputada é um tanto simpática, mas dá cada derrapada!
Empoderamento é outra palavra que soa mal. Não o significado dela, mas a boca cheia com que falam essa palavra feia. Pessoas que chegam lá são “vencedoras”, ao contrário das que não chegam, “perdedoras”. Haja babaquice preconceituosa!
Birras minhas
Uma tendência que me irrita é usar palavras e expressões em inglês substituindo outras em português, que existem há muito. A primeira que começou a me incomodar é o uso de “insight”. Para uma moça que sempre dizia que teve um insight, falei que desde criança a gente falava que teve um estalo ou “me deu um estalo”, mas ela insistia: “É diferente”.
Palavras novas, que não existiam em português, tudo bem. Tem que usar as estrangeiras mesmo. Mas um monte de gente acha chique usar palavras em inglês. Às vezes se exibindo: qualquer pessoa que diz que é PhD em qualquer coisa perde muito no meu conceito. O fulano não é doutor, é PhD, porque estudou na gringolândia, pode até ser numa faculdade mequetrefe, mas foi lá, é o que vale. É coisa do pessoal que chama de América apenas os Estados Unidos. América não vale pro quintal.
Para eles, atirador de elite agora é “sniper”. “Spoiler” não existia para nós até um dia desses. Agora, vira e mexe um desmancha prazer se autodenomina spoiler. “Compliance” é outra novidade chata. Sempre que falam isso (será preconceito meu?), me parece que um executivo está encarregado de tirar a fama de mutreteira de uma empresa, sem necessariamente mudar suas práticas. Só azeitar.
Nessa tendência gringófila, até usam algumas palavras portuguesas, mas com o significado dado pelos gringos: as indústrias não têm mais fábricas, têm plantas.
Volto às palavras desnecessárias. Não gosto quando ouço chamar bicicleta de bike, pagamento em dinheiro de in cash, parceria ou associação de joint-venture, cachorro de PET, carrocinha de comida de food-truck, 30% de desconto de 30% off, parada de pit-stop, livro de bolso de pocket-book, serviço de quarto de room service e muitas outras submissões. Até a cervejinha no final da tarde se torna afrescalhada para eles, é happy hour.
Uma vez, ia com minha namorada e um casal de amigos para Nova Orleans, mas não tinha como ir direto. O jeito mais fácil era dar uma parada em Miami. Então dormiríamos lá uma noite. A mulher da agência de viagens falava dos hotéis de downtown, com a boca cheia, e eu insistia que queria era ficar no centro da cidade. Ela nem percebia minha ironia. Por mim, teria trocado de agência só por causa dela.
E a pronúncia de siglas? CIA, falam ci-ai-ei, HBO é êigi-bi-ôu, CEO (sigla totalmente desnecessária, para se referir a um executivo pica-grossa) é “ciôu.
Para encerrar...
Tem coisas que felizmente não ouço mais. Sobre elas os tempos mudaram para melhor: ninguém mais fala que tal moça é de família. Quando me perguntavam se era ou não, eu respondia: “Não. É de chocadeira elétrica”.
Mas vamos mais uma vez ao que não gosto. Expressão que dói no ouvido é “para mim fazer”. Até doutores substituem o “eu” por “mim”.
Falando nisso, acho uma coisa horrorosa falar “entre mim e ele”. Para evitar falar isso, sempre usei (não só por isso) “entre ele e eu”. Não é que vi um artigo de um professor dizendo que o certo é mesmo “entre mim e ele”? E invertendo as pessoas, “entre ele e mim”? O certo é isso? Neste caso prefiro falar errado.
Termino falando de uma expressão que junta duas palavras “normais”: sertanejo e universitário. Juntaram para falar de um ritmo choroso e chato, que não é sertanejo nem universitário. A expressão pode ser irritante, mas o que eles chamam de música é mais ainda. Pior é que quem gosta põe a todo volume, esparramando seu mau-gosto. Para esse tipo vale a velha expressão caipira: tá achando que meu ouvido é penico?