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OPINIÃO
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Um discurso que pretende atrair seguidores pode ser racional ou passional. Os discursos proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro são, em sua maioria, emotivos. Visam despertar no ouvinte a emoção, impedindo-o de pensar racionalmente. Como explica Patrick Charaudeau, “visar tocar o afeto do outro é neutralizar em parte, nele, a atividade racional de análise” (1).
Na incapacidade de formular um discurso racional, o presidente desenvolve uma retórica que explora palavras capazes de despertar nos ouvintes o sentimento de antipatia, ódio e repulsa.
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Como Bolsonaro iria ser contrário ao discurso proferido pela jovem Greta Thunberg? Um discurso voltado para a preservação do meio ambiente (ainda que ingênuo por não ser anticapitalista). Na falta de argumentos plausíveis, decidiu chamar a ativista de “pirralha".
O mesmo aconteceu com Paulo Freire. Pedagogo conhecido mundialmente, citado como um intelectual extremamente importante na atividade educacional, com métodos utilizados em várias partes do mundo... Como Bolsonaro iria criticá-lo racionalmente? A crítica precisava ser irracional, por isso usou-se a estratégia de chamar o patrono da educação brasileira de “energúmeno”.
[caption id="attachment_173448" align="alignnone" width="500"] O educador Paulo Freire Foto: Acervo Instituto Paulo Freire[/caption]
É lógico que as emoções são fundamentais no discurso. Tanto Aristóteles quanto Quintiliano observam a importância dos afetos no processo persuasivo. Mas a questão é quando nos deparamos com o uso das emoções em excesso.
Nas palavras de Bolsonaro podemos identificar uma retórica da repulsa na qual se busca “um movimento de desaprovação, ou até mesmo de rejeição violenta” de uma imagem (2). São técnicas de simulação de emoções para que o orador possa se colocar em estado de empatia com os ouvintes.
A retórica que busca despertar a repulsa, o ódio e a antipatia (entendidos aqui dentro de uma mesma tópica discursiva que visa a tensão) é uma maneira de preencher as necessidades de revolta, de protesto, características de pessoas inconformadas com a situação política. Tais tópicas manipulam a insatisfação fazendo com que muitos sigam apenas o que orador disse, privando-se da capacidade e disposição de analisar a coisa em si, ou seja, o objeto ofendido.
Em relação aos objetos dos insultos de Bolsonaro, no caso, Greta Thunberg e Paulo Freire, a racionalidade o prejudicaria. A defesa do meio ambiente e de uma educação emancipadora são uns dos principais alvos de seu projeto de poder, contudo, são questões que têm um valor positivo para a maior parte das pessoas. São questões fundamentais para a humanidade. Portanto, é necessário trabalhar as emoções, agenciá-las para que os seus eleitores se dobrem ao seu ponto de vista.
A antipatia, a repulsa e o ódio, que são criados contra as imagens e símbolos que Bolsonaro se opõe, tem também a intenção de criar antipatia, repulsa e ódio contra ele mesmo para que a discussão política fique apenas em níveis irracionais, níveis que o orador em questão domina. Por outro lado, em seus seguidores são despertados, em relação a ele, os sentimentos de simpatia, atração e amor, e seus opositores, por seu turno, fazem o mesmo em relação aos símbolos e imagens que defendem. Todos entram em um jogo manipulado pelo presidente da República.
Precisamos racionalizar a discussão política no Brasil. Os veículos de comunicação que prezam por uma discussão saudável e democrática precisam abrir mais espaços para reflexões racionais sobre economia e política. Caso contrário apenas alimentar-se-á a tragédia brasileira. É preciso fazer retumbar as palavras sábias e não a irracionalidade de um histriônico inconsequente.
(1)CHARAUDEAU, P. “A patemização na televisão como estratégia de autenticidade”. In: MACHADO, I. L. e MENDES, E. (orgs.). As Emoções no Discurso. Vol. 2. Trad: Emília Mendes. Campinas: Mercado das Letras, 2010. p. 54.
(2)Id. P. 53.