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OPINIÃO
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Todos os dias o presidente quer que riam do que ele fala, especialmente empresários ávidos por riquezas e bajuladores genuflexos. Visto que ele dá show diário, já se entende que ele tem mais de um papel social, além do de presidente.
A frase sobre Greta Thunberg, feita em duas emissões, ficou completa: “a pirralha faz um showzinho na COP25”.
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Bem, acabou o papo do general Rego Barros. A frase está completa. O que interessa agora é a situação gramatical do enunciado e nada a ver com a bobagem de ser “pequena” ou “menina”.
Atenção âncoras de mídia e comentaristas: parem de ser enganados pelo papel duplo do rei do ilusionismo de porta de palácio. Busquem comunicar a verdade.
No dia em que a frase de zombaria e raiva sobre Greta se completou, o Senado mostra ao país que o governo do capitão não tem credibilidade para conquistar fundos internacionais a fim de garantir a dignidade do país diante das ameaças climáticas. No mesmo dia, o pesquisador Raoni Rajão, da UFMG (Vide Jornal da Ciência, SBPC), mostrou por A mais B em Madrid que a alta do desmatamento e suas consequências nos ecossistemas de matas e florestas do Brasil exigirão do Brasil gastar US$ 5 trilhões até 2050 para cumprir metas climáticas já assinadas. Ou sofrer todas as consequências.
Junte-se a isso as doenças, a mortandade, a violência das grilagens, o aumento do agrotóxico, o uso do SUS pelos afetados. O país será um inferno, portanto insustentável. Nesse inferno bailarão os supostos pastores, líderes da bajulação.
Mas tudo isso somente se Jair Messias continuar a dirigir o país e completar o governo como age agora. Pense o povo brasileiro, especialmente a juventude, que Bolsonaro e o Congresso Nacional teriam de, imediatamente, alterar toda a política industrial e de energia e ainda comprar créditos de carbono de outros países. Ou governos do futuro gastarão os 5 trilhões de dólares, nas contas do pesquisador mineiro citado.
Por isso e muito mais Greta é um valor simbólico, olhar penetrante, foco inequívoco. Uma filha ou neta simbólica das pessoas honestas que ad-miram o futuro no sentido freireano do ad-mirar, captar, apreender, construir uma leitura rigorosa e verdadeira do tempo que se move. Greta reconstruiu o verdadeiro sentido da escola, da educação, exatamente o que não interessa em nada ao Sr. Jair Messias e ao Weintraub, que jamais seria assistente de assistente de ministro em governo sério.
Vejamos a verdade que se encerra no vocábulo “pirralha” do presidente.
Em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, lê-se: O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça.
O pai deseja matar o filho. Antes não o chamara de pirralho, mas sua consciência impotente se horroriza com a criança que não obedece.
O menino de Vidas Secas sofre riscos, como Greta, que olha, admira e foca no erro humano diante de sua casa, que é a Terra. E muitos a odeiam, como o presidente malfadado. Ainda que ele diga que não.
Na obra de José Mauro de Vasconcelos Meu pé de laranja lima encontra-se: A carranca do Português parece que aumentara. Seus olhos despendiam fagulhas. – Então, moleque atrevido. Eras tu? Um pirralho desses com tal atrevimento!
O mundo adulto, raivoso, impotente, incompetente sempre encontra pirralhos pelo caminho e tenta neles descarregar seus reveses, frustrações e fraquezas.
Greta é atrevida no seu foco, no discurso decisivo, na leitura profética. O presidente que gosta de fazer rir na porta do seu palácio e nos banquetes empresariais teria de soltar fagulhas de raiva em forma de escárnio e maldizer.
Greta é uma escolha da Vida neste tempo de revelações, antes que seja tarde para o humano. Bolsonaro, tentando garimpar alguma projeção internacional (falem mal, mas falem de mim, como pensa seu guru telepático endividado), faz rir e faz o Brasil piorar a cada dia no concerto das nações. Bolsonaro é a compulsão de morte no interior das risadinhas.
Seu termo “pirralha” para Greta, posto em posição situacional nas frases, diz tudo, como provamos com textos de obras literárias muito distintas. Seu ódio à menina sueca é compensado pelo amor mundial à causa que ela abraça, ainda mais valorizada pela síndrome de Asperger.
E nós, contribuintes e cidadãos, fora da roda de bajuladores, temos de nos preparar para pagar a conta do horror que o presidente vai criando para o país com o qual ele brinca. Pirralhos somos todos nós, exceto os bajuladores, com destaque para os incapazes de amar.