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OPINIÃO
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O Flamengo fez um jogo abaixo da sua média desde que o português de nome Jesus veio resgatá-lo neste ano que parecia ser apenas mais um do cheirinho. Com Jorge Jesus, o time encaixou de um jeito que mesmo os torcedores menos intoxicados com a rivalidade passaram a louvá-lo.
Um futebol bonito, com controle da bola, agudo e eficiente. Que ontem, como já disse, não conseguia se impor diante de um River Plate absolutamente organizado taticamente e que ganhava o meio campo até 20 minutos do segundo tempo.
Foi quando Gerson, um excelente volante, sentiu uma lesão. Uma santa lesão. Uma lesão que ajudou Jesus a colocar em campo o predestinado Diego que entrou para mudar o jogo que caminhava para ser uma vitória lírica do River, numa conquista épica do Flamengo.
Uma vitória suada, construída na valentia e no talento de alguns jogadores que pareciam ter nascido para cravar seu nome na história do clube. Apesar de já terem vivido dias lindos num lindo time lá da Baixada Santista.
Todos os orixás devem ter ajudado Bruno Henrique naquela sapecada para lá e pra cá na hora do primeiro gol. E todas as orações devem ter contribuído para Gabigol se encher de força na disputa de bola do segundo gol. E Diego, quem diria, roubou uma bola do forte Pratto e abriu ali o caminho da vitória.
Mas além dessa linda conquista, a vitória do Flamengo expôs outras coisas deste Brasil vermelho, preto, verde, amarelo, azul e branco.
Um juiz de calça branca, mais justa que a de uma ginasta em competição, e de camisa justíssima do clube, conclamou a nação brasileira a torcer pelo seu time. Ao fundo, o Corcovado e uma vista que chocava pela exuberância da vida de alguém que é apenas um servidor público e que junto com sua esposa receberam auxílio moradia para viver por lá.
A imagem mais sórdida da elite até este vídeo de Bretas era a de um homem gordo de cartola fumando um charuto. Desde ontem, esta cena de Bretas se tornou incomparável. Ela é a elite sarrando às custas do povo.
Mas ele não foi o único a ostentar e buscar tirar proveito político do jogo e seus contornos.
O governador Witzel foi se ajoelhar aos pés de Gabigol, que o deixou no vácuo, numa das mais humilhantes cenas da história do futebol brasileiro.
Um governador jogado ao chão enquanto o craque caminhava com desdém para o outro lado. Quanta poesia numa cena só.
Bolsonaro, que torce para o Palmeiras em São Paulo e pelo Botafogo no Rio, também tentou tirar casquinha. E na caixa de comentários foi destruído por internautas.
Enquanto isso, as imagens da favela eram lindas. O povo comemorando como devia de ser. Sem frescuras, sem tentativas oportunistas de aparecer, com a verdadeira emoção que faz do futebol este esporte maravilhoso, envolvente, fascinante.
Um esporte que permite uma vitória épica com muitos heróis. E que será comentada por décadas e décadas de avô para neto, de mãe para filha, de amigo para amiga.
O Brasil canhestro de ontem, simbolizado na imagem de dois flamenguistas como Bretas e Witzel está no poder. Busca subtrair nossas alegrias. Mas eles passarão. E nós, mesmos aqueles que não são flamenguistas, passarinho. Pra contar como foi lindo ver o Flamengo vencer.
E como será lindo ver o Brasil derrotando essa parte da elite que odeia o Brasil.