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OPINIÃO
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Quando fui chamada, por ser integrante do Coletivo Vote Nelas, para uma reunião no Ministério Público de São Paulo, que debateria a importância de termos mais mulheres na política, não pensei duas vezes. Foi em abril deste ano. Eram cerca de 30 mulheres: juristas, acadêmicas, representantes de organizações civis. Senti a potência daquele encontro. Se somos 52% da população brasileira, sendo 27% de mulheres negras, por que não nos vemos representadas nas câmaras, assembleias e no Congresso Nacional?
Então, baseadas em dados, pesquisas científicas e amparadas na Lei, escrevemos um projeto de lei que pede 50% de reserva das cadeiras para mulheres, sendo 25% para mulheres negras. Estavam querendo acabar com os 30% da reserva, mas nós trucamos! Eu não sabia que um projeto de lei poderia partir de iniciativa popular. Devo todo esse aprendizado às promotoras do MP e advogadas envolvidas. Acreditem, o judiciário não está totalmente corrompido. Tem muita gente no judiciário, homens e mulheres, lutando por um mundo mais justo, por direitos humanos e por manter a nossa civilidade. E um dos motivos que mais me moveu nessa empreitada foi a falta de protagonismo do movimento, por ser orgânico, de colaboração. Como bem disse Caci Amaral, do MCCE (Movimento Contra a Corrupção Eleitoral), “começamos numa reunião e nos tornamos todas amigas”. Nós estamos juntas por um objetivo maior e quando for alcançado poderá abraçar muitas das causas das mulheres, como saúde pública, igualdade no mercado de trabalho, diminuição da violência doméstica, cuidados com a primeira infância.
Após cinco meses de discussões, propostas viáveis e estudos, fizemos o lançamento no mesmo Ministério Público, onde tudo começou. A partir deste dia o movimento se tornou nacional, com Embaixadoras e mais de 240 coletivos de todo o Brasil. O Mais Mulheres na Política está crescendo de uma maneira tão rápida que já tem grupo em Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal e várias regiões do Estado de São Paulo. Estamos articulando com deputadas e deputados simpatizantes do Projeto de Lei Mais Mulheres na Política. É como o filme Clube da Luta (1999, dirigido por David Fincher), uma ideia que vai se propagando na velocidade do som, mas mudando a primeira regra. No filme a regra é nunca falar do Clube. A nossa é falar sempre do Projeto de Lei.
E para os que ainda falam que política não é lugar de mulher, que as candidatas laranjas existem porque as mulheres não se interessam por política, digo que essa não é a verdade. As mulheres participam de política o tempo todo, desde quando procuram vaga na creche para os filhos, quando fazem comparação de preços nas compras, participam de encontros comunitários, reunião na escola dos filhos, resgatam animais abandonados até quando ajudam outras mulheres nos cuidando de seus filhos, quando essas vão trabalhar. Assim como muitos homens também resgatam animais na rua e participam de reuniões da escola (sabemos que ainda é mais função materna, mas já vejo avanços da ala masculina).
Nosso próximo passo é uma reunião em Brasília, ainda este ano, com as deputadas da Comissão da Mulher. Quem está fazendo essa articulação é a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL), que está trazendo mais deputadas de outros partidos, porque é um PL suprapartidário, de interesse coletivo. O mundo foi dominado politicamente por homens durante os últimos milênios e deu no que está dando. Vamos dividir o lugar de poder, vamos colocar mais mulheres no Legislativo e em cargos executivos também. Vamos diminuir essa desigualdade social, principal fator para a violência e por toda essa crise que agora se agrava na América Latina.