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OPINIÃO
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Na manifestação da última sexta-feira (15), em Santiago, um dos momentos de maior êxtase foi quando um grupo chegou com um inflável gigante de um cachorro negro com um lenço vermelho amarrado no pescoço. “Matapacos! Matapacos! Matapacos!!”, grita a multidão, em verdadeira adoração a este ícone moderno da rebeldia chilena.
Matapacos é o cão símbolo do afã revolucionário deste Chile de 2019, mas hoje ele é só uma lenda. Uma lenda com uma interessante história real por trás, que começa no ano de 2011.
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Naquele então, o atual presidente, Sebastián Piñera, estava em seu primeiro mandato, e sentia pela primeira vez a sensação de perder o controle político do país (parecido com o que sente agora), quando os estudantes universitários lotaram as ruas pedindo o fim do lucro e do controle empresarial na educação – entre 1989 e 2015, se manteve vigente no Chile uma legislação que considerava a educação um negócio, e por isso eram raríssimas as escolas gratuitas, mesmo as públicas, cuja maioria era concessionada a grupos privados.
Aquelas marchas do começo da década foram fortemente reprimidas. A juventude dos estudantes os fazia reagir com o mesmo vigor, mas em meio a esses confrontos surgiu um herói inesperado. Um cachorro de rua todo negro que quando a polícia chegava se colocava na primeira fila da batalha, driblando os escudos e mordendo os policiais dos batalhões de choque.
[caption id="attachment_195399" align="alignnone" width="503"] Foto: Caiozzama[/caption]
Não demorou muito para a molecada adotar aquele vira-lata aguerrido como símbolo da luta pelo direito à educação. Passaram a vesti-lo com um lenço vermelho que era trocado a cada manifestação, ganhava comida e alguns até o levavam a tomar banho, e depois o devolviam às ruas, onde ele vivia.
A valentia do cão nas batalhas contra os policiais o fez ganhar o nome que marca até hoje a sua lenda: El Negro Matapacos – “paco” é o termo com que os chilenos usam para se referirem pejorativamente aos policiais militares.
Mas a história também tem o seu final triste. O cão faleceu em agosto de 2017, vítima de uma doença da qual padeceu durante o último ano de sua vida. Também se pode dizer que morreu de velhice, apesar de que ninguém nunca soube exatamente quantos anos tinha.
[caption id="attachment_195400" align="alignnone" width="495"] Foto: Victor Farinelli[/caption]
Após a sua morte, passaram a ser comuns as homenagens à sua memória, especialmente nas federações estudantis, onde ele é considerado quase como um santo protetor dos estudantes que se manifestam. Durante estes dias de rebelião diária no país, sua figura voltou a ser reivindicada, e não só nesta última marcha.
Nas paredes, murais, estatuetas, cartazes, bandeiras, camisetas e até mesmo em uma história em quadrinhos, a figura do Negro Matapacos está presente, seja com seu rosto mais amigável, que ele reservava aos estudantes, ou os latidos e as mordidas, que eram dedicados à polícia. Definitivamente, o Negro Matapacos colocou em prática a máxima revolucionária de que há que endurecer, mas sem perder a ternura, e por isso os chilenos o eternizaram como símbolo de luta.