“A situação é teratológica. Fico com a sensação que é tudo combinado”, tuitou a conhecida “musa do impeachment”, a jurista Janaina Paschoal, deputada estadual pelo PSL. As palavras da indefectível jurista talvez expressem muito mais do que espanto diante da suposta crise do partido. A chamada crise de Bolsonaro com o PSL ocupa a pauta midiática junto com a catástrofe ambiental do derramamento de óleo cru na costa do Nordeste, coincidentemente a poucos dias do megaleilão da cessão onerosa do gigantesco Pré-sal. A “situação teratológica” é a guerra semiótica criptografada, a ópera bufa para entreter o respeitável público – de um lado, uma crise fabricada com mentidos e desmentidos para ocupar a pauta de analistas e colunistas; do outro, colocar a culpa na Venezuela pelas manchas de óleo depois de um silêncio obsequioso da mídia por um mês. Tática diversionista para blindar o megaleilão do Pré-sal e toda a agenda neoliberal com muito thriller político e reality show. Afinal, para quê valeu todo o esforço organizacional da guerra híbrida brasileira cujo ápice foi o impeachment?
Quem não se lembra da professora e jurista Janaina Paschoal e sua performance ensandecida em um discurso de apoio ao impeachment da presidenta Dilma na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em São Paulo – descabelada, rodando a bandeira nacional numa performance que lembrava alguma coisa entre o Death Metal e a atriz Linda Blair em
O Exorcista. Um discurso que emulava um bispo neopentecostal fora do controle – o que prenunciava a futura e sombria aliança entre religião/milícias/extrema-dreita.
Pois até ela, agora deputada estadual (após a grande mídia tê-la buscado no Brasil Profundo para dar a “massa crítica” necessária para desferir o impeachment em 2016), percebe algo estranho na “crise” entre o presidente Bolsonaro e o seu partido, o PSL. Em sua conta no Twitter, a jurista apontou que “a situação é tão teratológica, que fico com a sensação de que tudo é combinado. Tanta loucura parece impossível”.
A guerra entre Bolsonaro com a própria legenda em tudo lembra uma ópera bufa pelas inda e vindas com muita canastrice e galhofas - sobre a canastrice como fator político
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“Eu tô meio bonito...”
Emulando um jogador de futebol em crise com seu clube, Bolsonaro disse sorridente que recebeu “vários convites” de outras legendas, mas não revelou quais: “eu tô meio bonito, sabe disso, né?... então eu tenho vários convites”, fez troça o sorridente presidente.
Simultaneamente, “vaza” o áudio do líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO) xingando o presidente e ameaçando “implodi-lo”. Mais tarde contemporizou dizendo que tudo foi “um momento de sentimentos”, “fala de emoção” e que “isso já passou”, além de soltar uma indefectível pérola misógina: “somos que nem mulher traída, apanha, mas volta para o aconchego...”.
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Joice vira "mulher-bomba"...[/caption]
E tome o longo espaço ocupado pelas análises políticas sobre um suposto “auto-impeachment de Bolsonaro. Ou o início de algum golpe bonapartista para o presidente governar sozinho, sem o Congresso e com apoio das Forças Armadas. De repente, até o Delegado Waldir ganhou destaque na chamada blogosfera progressista – o PFL seria na verdade formado por uma gangue de “homens-bomba” impulsivos, e Bolsonaro um inepto político.
E depois veio a “mulher-bomba”: a notícia de que Joice Hasselman falaria no programa “Roda Viva” da TV Cultura – prometeu contar tudo! Suspense... quando chegou o momento do programa ao vivo, Joice não contou nada que prometeu. Show de papo furado, elogios ao chefe tentando emplacar que Bolsonaro é diferente dos filhos, frases dúbias, recuos calculados e assim por diante.
Ah! Mas ela falou que os filhos do Bolsonaro mantêm páginas falsas na Internet para disseminar fake news. Segredo de polichinelo: ela e a torcida do Flamengo sabem disso. Mais uma bomba do “reality show” - sintomaticamente, assim definem muitos analistas políticos a crise do PSL...
Óleo no Nordeste: mesmo modus operandi
Ao mesmo tempo também ganha espaço nas mídias a catástrofe ambiental do derramamento de petróleo cru que contamina a costa do Nordeste do País, chegando a incluir praias turísticas populares – talvez seja por isso que a notícia ganhou repentinamente espaço, depois de mais de um mês de silêncio do Governo e da imprensa corporativa.
O mesmo
modus operandi: Bolsonaro provoca dizendo que o petróleo era da Venezuela. Jogo de cena facilmente desmentido, apesar da grande mídia de maneira acrítica comprar a versão no primeiro instante. Enquanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passa o tempo fazendo provocações políticas, acusando os governadores do nordeste de não estarem fazendo sua parte na amenização dos efeitos do desastre.
Sem conseguir mais sustentar o fator Venezuela, a grande mídia partiu para a estratégia de normalização do desastre: “É bonito de ser ver!”, exclama uma repórter local da Rede Globo ao mostrar mutirões de moradores e turistas limpando uma praia em Alagoas. Ou então as notícias sobre o avanço das manchas de petróleo serem sucedidas nos telejornais pelo bloco da previsão do tempo – velha tática de contaminação metonímica para classificar a tragédia ambiental na ordem dos fenômenos naturais.
O show continua: é a tática de guerra criptografada colocada em ação desde o primeiro dia do atual governo – a estratégia de ocupar a pauta midiática com eventos produzidos por uma verdadeira usina de “crises”. A promoção diária de fofocas, conflitos, boatos, “caneladas”, “fogo amigo”, provocações - principalmente contra a esquerda que, como um cão de Pavlov, diligentemente responde). Para criar a interpretação diversionista de que o governo está naufragando na crise, se esfacelando, à beira do descontrole total cujo líder é um presidente tosco e burro.
Assustando até a musa do impeachment, Janaina Paschoal, que acha tudo “teratológico” ou “loucura impossível”. Militando dentro do PSL, Janaina tem a sensação de ser “tudo combinado” de tão inverossímil que parecem as jogadas típicas de uma guerra criptografada.
Mesmo ela, aquela que acreditava que o Brasil era a “República da Cobra” e um “cativeiro de almas e mentes”, consegue perceber o ardil e artifício desse jogo de cena criado para embaralhar e entreter a patuleia.
Menos para a grande mídia e para própria mídia progressista - levando à sério essas aparências para alimentar seu incorrigível
wishiful thinking, a zona de conforto do discurso da “luta e resistência”.
Blindar megaleilão do Pré-sal
Tanto a suposta crise do PSL e o desastre ambiental nas costas do Nordeste “coincidentemente” (ou sincronicamente?) acontecem na proximidade do megaleilão da cessão onerosa dos gigantescos recursos do Pré-sal – até aqui, o ponto mais alto da privataria que assalta a soberania brasileira.
Afinal, para quê valeu todo o esforço organizacional da guerra híbrida brasileira, impeachment, sustentação a todo custo de Temer no Governo e a aposta no “não tem-tu-vai-tu mesmo” Bolsonaro? Esse megaleilão do Pré-sal é a concretização do escopo da geopolítica energética norte-americana.
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