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OPINIÃO
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Em um cenário de miséria política, se intensificam os embates entre os eleitores de Ciro Gomes e Fernando Haddad. O debate sobre novas configurações políticas é soterrado pela urgência própria das eleições – afinal, é preciso se diferenciar do outro candidato de esquerda, ou seja, do adversário interno.
No entanto, essa tentativa de diferenciação parece reproduzir um caminho que demonstra, ao longo dos anos, um intenso esgotamento. Para cada acusação contra Ciro, haverá uma acusação contra Haddad. Por exemplo, quando é apontada a incoerência de ter Kátia Abreu como vice na chapa do PDT, logo se levanta a trajetória política de Kátia Abreu como ministra de Dilma e base do governo petista.
Contudo, não se trata de apontar algum tipo de equivalência entre Ciro e Haddad, mas de ressaltar que ambos são passíveis de críticas e que nenhum deles representa o novo – até porque não existe possibilidade de produzir algo novo em meio à falência do sistema representativo.
Se nenhuma representação é plena, todo voto é um voto crítico. Portanto, o debate entre os eleitores de Ciro e Haddad esbarra na impossibilidade de superação dos limites do sistema representativo. Ou seja, a escolha é feita dentro dos limites que o sistema representativo nos impõe.
Dentro desses limites, é preciso ainda se perguntar qual é o impacto de eleger um inimigo dentro da esquerda, diante da ascensão do fascismo. Mas, mesmo que a esquerda encontrasse uma união nas diferenças (ou que ao menos fizesse um pacto de não agressão), o candidato eleito ainda se depararia com a imobilidade causada pela imbricação entre governabilidade e corrupção sistêmica.
Ou seja, o voto não é o fim último da democracia, mas um indício de suas limitações. O fim último da democracia é a expansão de si mesma – a exigência permanente de novas formas de participação popular.
O novo não vai surgir pelas mãos de nenhum candidato, mas por um protagonismo político para além do voto. Outubro é só o começo.