Neymar + efeito Heisenberg = outro ovo da serpente chocado

Observe a fotografia que abre essa postagem. Ela poderá explicar bastante o futuro que talvez esteja reservado para a Seleção brasileira nessa Copa. A imagem mostra Neymar Jr. correspondendo às câmeras em um flagrante do chamado “efeito Heisenberg” midiático

Escrito en OPINIÃO el
Dói para esse humilde blogueiro, santista futebolisticamente e de nascimento, escrever essas mal traçadas linhas: Neymar Jr. é um subproduto perverso do neodesenvolvimentismo dos governos petistas – que confundia a inclusão de brasileiros na sociedade de consumo como a própria ideia de cidadania. E agora virou a “grande esperança branca” de uma seleção convertida em modelo de sucesso mérito-empreendedor pós-golpe através de jogadores que conheceram o sucesso financeiro na Europa. A foto acima que ilustra essa postagem fala muito mais do que mil textos que tentem traduzir sociologicamente essa situação bizarra de um jogador considerado a última bala na agulha de uma seleção de futebol milionária. Se outro jogador santista, Pelé, aos 17 anos após um golaço na final da Copa de 1958 contra a Suécia (chapéu num zagueiro, matou no peito e bateu de primeira no canto direito), caiu em choro copioso após o título mundial, agora Neymar Jr. desaba no gramado em prantos depois de fazer um gol sem goleiro contra o 25o colocado do ranking FIFA num jogo da fase de grupos da Copa. Neymar Jr., jovem e promissor jogador da base do Santos revelado em 2009 cada vez mais se notabilizou por vídeos em redes sociais dando pitacos contra juízes, adversários e até contra o técnico, Dorival Junior, por certa vez  tê-lo impedido de cobrar um pênalti em uma partida. [caption id="attachment_135539" align="aligncenter" width="640"] Pelé chora no ombro de Didi em 1958 após ser campeão do mundo aos 17 anos[/caption]

“Criando um monstro”

Na época, outro técnico, Renê Simões do Atlético de Goiás, chegou a falar que a mídia “estava criando um monstro”. Na medida em que seu “sucesso” futebolístico (com grande complacência da grande mídia e do mercado publicitário) aumentava sua onipresença midiática, mais e mais o jogador revelava suas origens sócio-culturais: no funk ostentação da Baixada Santista/SP – ao lado da Grande São Paulo, berço da vertente brasileira reacionária do gênero musical: musicas sobre carros, motocicletas, bebidas, além de abordar as mulheres como um mero meio de alcançar ainda mais poder material. Bem diferente da vertente carioca que tematizava a criminalidade e a vida sofrida nos morros e periferias. O personagem Neymar Jr. cresceu como modelo de sucesso (com direito a participação em novelas da Globo) para uma geração que via nas novas formas de consumo da egressa Classe C um canal para reconhecimento e afirmação em um País que parecia ser a bola da vez. E exibindo uma fortuna desperdiçada em carros , helicópteros, um iate para 60 pessoas e um jato particular. Riqueza ostentada sistematicamente por ele próprio e seus amigos e agregados privilegiados em redes sociais. Hoje, Neymar Jr. é o seu próprio paroxismo: é também um subproduto do chamado “efeito Heinsenberg” (o mesmo que levou a Seleção às cordas no 7 X 1 contra a Alemanha em 2014) e que destrói o futebol brasileiro – efeito secundário produzido pelas coberturas midiáticas no qual a mídia passa a maior parte do tempo cobrindo o efeito que ela própria cria sobre os fatos: a cobertura dos esforços dos personagens transformarem-se a si mesmos em entretenimento para atrair a atenção das mídias – sobre esse conceito clique aqui. [caption id="attachment_135540" align="aligncenter" width="480"] Renê Simões: "mídia está criando um monstro"[/caption]

“Neymarketing?”

Com a crescente dramaticidade do jogo contra a “poderosa” Costa Rica e, como era de se esperar, o descontrole emocional de um jogador que só parece mostrar seu talento em ambientes favoráveis de jogo, Neymar passou a xingar e desacatar o juiz, jogar a bola no chão em protesto e xingar ainda mais o adversário. Mas ainda o pior: ofendeu o capitão do próprio time (Thiago Silva) após devolver a bola num gesto de fair play. Após o apito final, Neymar Jr. desabou no gramado chorando e escondendo o rosto. “Neymarketing”? Uma estratégia para criar empatia com o distinto público? Afinal, quando ele achava que já estava tudo perdido, desfilou arrogância, destempero e palavrões. Enquadrado em close pelas câmeras da Fifa. O jornalista Paulo Henrique Amorim carregou as tintas na Psicanálise para diagnosticar o chiliquento Neymar: se as lágrimas forem falsa é mau-caratismo. Se verdadeira, disse o jornalista, trata-se de um sujeito psicótico – clique aqui. Mas talvez não seja necessário chegar a tanto. Neymar Jr. é o resultado do equívoco dos anos de neodesenvolvimentismo que chocou o ovo da serpente do novo riquismo mérito-empreendedor sem formação política ou noção de cidadania. Somado ao pós-moderno efeito Heisenberg midiático. Muito mais do que o metrossexual Cristiano Ronaldo, que a todo momento olha o seu rendimento visual no telão do estádio, em Neymar há algo de muito mais insidioso: a leniência da grande mídia e dos brasileiros. [caption id="attachment_135541" align="aligncenter" width="640"] Um "ativo financeiro" da indústria de lavagem de dinheiro no futebol?[/caption]

Efeito Heisenberg e tautismo

Para a grande mídia, Neymar cumpre o script perfeito – as mídia cobrem um personagem que se esforça em capturar a atenção das câmeras. Em última instância, a mídia cobre a si mesma, confirmando o seu tautismo (tautologia + autismo midiático) crônico. >>>>>Continue lendo no Cinegnose>>>>>>>