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OPINIÃO
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“A visão estadista de Deus” é o título do primeiro capítulo do livro Plano de Poder: Deus, os cristãos e a política. Logo é possível concluir que o Bispo Macedo é Deus.1
Não estou fazendo jogo de palavras. A descrição da visão estadista de Deus é apresentada enquanto Macedo descreve a sua visão. O que ele chama de FÉ RACIONAL.
A Bíblia é usada sem cerimônia para afirmar que a arte de governar é devida ao povo adormecido de Deus. A Igreja acomodada deve se levantar para exercer o poder e domínio em nome de Deus.
O projeto estadista de Deus foi frustrado. Disse ele a Adão: tenha domínio sobre toda a terra... Também recomendou a Noé: multiplicai-vos e enchei a terra. Deu errado em ambos os casos.
A ênfase não recai sobre o que deu errado, mas no detalhe de Deus possuir um plano estadista. O exemplo positivo do capítulo recai sobre a administração pública de José no Egito.
Daí Macedo conclui, desde que haja alguém capaz de entender o plano estadista de Deus e que tenha coragem para executá-lo, o bordão usado para motivar Gideão “Vai nessa tua força” poderá ser atualizado para “Emancipem-se!”.
O convite inequívoco é para a mobilização geral daqueles que querem ver em curso o tal Plano Estadista de Deus no Brasil contemporâneo.
Diante de tal descalabro precisamos tentar algumas hipóteses interpretativas.
1º) Talvez o Bispo Macedo não se considere esperto, mas certamente acha que os seus seguidores são idiotas.
2º) As páginas da Bíblia do Macedo têm a mesma utilidade que o papel higiênico.
3º) No livro Macedo cinicamente defende a participação da população civil nos negócios públicos, nos processos decisórios, orçamentos participativos, enquanto que na administração eclesiástica impera o governo teocrático piramidal (p. 24).
4º) Segundo Macedo, a política é um jogo de poder que precisa ser jogado com habilidades. Nos cultos, a magia com exorcismo e pirotecnias; na política, o pragmatismo da assessoria profissional (p. 29).
5º) O Bispo mistura os governos dos faraós do Egito, numa leitura bíblica para lá de sacaneada, com o contratualismo de Thomas Hobbes. O método confuso simplesmente visa legitimar a liderança da organização do “movimento social” que potencialmente são os evangélicos (p. 33).
6º) A chave hermenêutica do Macedo é o marketing. Através do uso dessa ferramenta ele lida com as três formas de poder: econômico, ideológico e político (p. 47).
7º) O nascimento de Moisés teria representado uma nova tentativa de Deus para realizar o seu projeto de nação. Os hebreus escravos no Egito não sabiam da força que tinham. A multidão evangélica no Brasil precisa reconhecer o seu poder através da “vara” salvadora de um líder especial (p. 43).
8º) Deixar para trás as disputas entre denominações, as disputas ideológicas e doutrinárias quando a política for uma causa comum. Segundo Macedo, os evangélicos estão para o Brasil assim como os hebreus estavam para o Egito no tempo de Moisés. Ou seja, numeroso e poderoso, porém, adormecido e servil (p. 52).
9º) E conhecereis o marketing, e ele o libertará.
10º) Macedo não se compara a Moisés. No seu Plano de Poder, Macedo faz de Deus gato e sapato. Talvez acredite que Deus é um babaca ambicioso que oscila entre mania de grandeza e mania de perseguição.
Enquanto isso, a maioria da comunidade evangélica segue o culto sem interrupção. Finge que não vê ou finge que não tem nada a ver com isso. Em relação ao Macedo, boa parte dos evangélicos deixaram o sentimento de repulsa para assumir o sentimento de inveja.
1 MACEDO, Bispo. Plano de poder: Deus, os cristãos e a política. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008.