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OPINIÃO
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[caption id="attachment_142351" align="alignnone" width="700"] Foto: Ricardo Stuckert[/caption]
No último domingo, Jair Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, cujo principal objetivo era fazer um discurso denuncista sobre a pesquisa acadêmica de Fernando Haddad. O candidato da extrema direita leu repetidas vezes o título da dissertação de mestrado de Haddad: Caráter socioeconômico do sistema soviético. Em seu macartismo à brasileira, apontava para uma folha de papel e dizia: “Olha pelo quê ele [Haddad] se interessa”.
A denúncia passou então para a tese de doutorado de Haddad, repetindo seu título: De Marx a Habermas: o materialismo histórico e seu paradigma adequado. Enfatizando que o orientador da tese foi o professor Paulo Arantes, “filósofo e importante pensador marxista brasileiro”. Olhando para a câmera, Bolsonaro perguntava: “Tem gente que acredita que esse cara [Haddad] é democrata?”.
Seu argumento falacioso (e extremamente perigoso) é que o tema da pesquisa acadêmica determinaria se um pesquisador é ou não democrata. A consequência material do discurso macartista de Bolsonaro, além da Lei da Mordaça, é o corte drástico no financiamento de pesquisas no campo das ciências humanas. O consultor da área de educação do PSL, Stavros Xanthopoylos, disse que grande parte dessas pesquisas não tem “significância nenhuma para o desenvolvimento do país”.
Não causa espanto que esse discurso se mostre possível no século XXI e que tenha grande adesão dos eleitores da extrema direita – só na página de Bolsonaro no Facebook, foram mais de trezentas mil curtidas. Afinal, como nos alertou Walter Benjamin, o fascismo não é um parêntese, uma regressão inexplicável ou uma exceção à regra do progresso. O fascismo é a regra a ser combatida e seu inimigo irredutível é o pensamento crítico. Não por acaso, os principais alvos do obscurantismo político são professores e pesquisadores.
Como diria Paulo Arantes, as ciências humanas são trincheiras contra o avanço do fascismo.