Com o Brasil batendo recordes mundiais em mortes pela covid-19 e a iminência do retorno do pagamento do auxílio emergencial pelos bancários da Caixa, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) enviou ofício ao Ministério da Saúde solicitando a priorização da vacina para os trabalhadores do banco e a garantia de imunização da sociedade por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Incluir o pessoal da Caixa como público prioritário na vacinação contra a Covid-19 contribuirá para que não se eleve a disseminação do vírus, dado o atendimento bancário ocorrer em ambiente fechado, com manipulação de cédulas e documentos que passam por várias pessoas”, observa a Fenae, destacando que a medida será positiva para a população em geral. “É preciso que o público que frequenta as agências encontre o ambiente mais protegido possível, inclusive no que se refere aos seus interlocutores”, reforça.
No ofício, encaminhado na quinta-feira (11), a Federação observa que os serviços bancários são considerados um dos segmentos imprescindíveis à sociedade e que os bancários da Caixa permanecerão na linha de frente da assistência a milhões de brasileiros. “É preciso ressaltar que a expectativa é que nos próximos meses volte a ocorrer uma grande procura por atendimento nas agências da Caixa, que mantém também as demandas regulares, como administração do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e de programas sociais que atingem uma grande massa populacional, atividades essas essenciais para a população, especialmente em tempos de crise”, diz o documento. Em 2020, mais de 160 milhões de pessoas receberam o auxílio e outros benefícios sociais por meio da Caixa Econômica Federal.
O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, pontua que o pagamento do auxílio emergencial voltará em um cenário de piora da pandemia. A chamada PEC Emergencial (Proposta de Emenda à Constituição 186/2019), que já havia passado pelo Senado e ontem foi aprovada pela Câmara dos Deputados, suspende condicionalidades para a destinação de R$ 44 bilhões ao auxílio. Os detalhes sobre o retorno do pagamento ainda serão definidos em medida provisória do governo, prevista para ser editada até a próxima semana. “Sem vacinação para os empregados da Caixa e para a população, as agências bancárias poderão se tornar vetores de contaminação”, alerta Takemoto.
Apelo — Este é o segundo ofício encaminhado pela Fenae, neste ano, ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. No dia 13 de janeiro, a entidade representativa dos empregados da Caixa solicitou o enquadramento dos trabalhadores do banco como público prioritário para a vacinação. Naquela circunstância, a Secretaria de Vigilância Sanitária do ministério informou que a priorização seria dada a grupos de maior risco para agravamento e óbito como também para quem atua em serviços de saúde.
No documento enviado ontem ao ministro Pazuello, a Federação ressalta que houve alteração considerável no cenário nacional da pandemia. “Observamos o surgimento de novas cepas da Covid-19, que levou a uma maior circulação do vírus e ao aumento dos índices de ocupação de leitos em hospitais no país”, aponta a Fenae.
O Brasil segue batendo recorde em mortes causadas pelo coronavírus, com um ritmo lento de vacinação e um sistema de saúde cada vez mais sobrecarregado. O país novamente registrou mais de duas mil óbitos em 24 horas e o número de casos ultrapassa 78,2 mil. No Distrito Federal, o governo local informou que 100% dos leitos de UTI estão ocupados, assim como em 53 das 105 cidades paulistas, por exemplo.
Na última terça-feira (9), o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, esteve com o ministro da Economia, Paulo Guedes. No encontro, em Brasília, eles teriam reconhecido que a retomada da economia depende da vacinação em massa e o mais rapidamente possível.
“A vacinação é urgente”, insiste o presidente da Fenae. “O país inteiro está sofrendo com a irresponsabilidade deste governo. Bolsonaro ignora a pandemia e as mortes, incentiva medicamentos sem comprovação científica, faz chacota de quem usa máscara e desencoraja a vacinação. Se não houver um plano coordenado e efetivo de vacinação para todos os brasileiros, estaremos condenados a arrastar a pandemia por anos”, acrescenta Sergio Takemoto, ao pontuar que a Fenae, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) e as representação dos bancários no Conselho de Administração da Caixa e na Comissão Executiva dos Empregados (CEE) estão cobrando da direção do banco público mais rigor em relação ao cumprimento dos protocolos sanitários nas agências. "Em proteção não só à saúde dos bancários como também de toda a população", completa.
Auxílio emergencial — Criado pelo Congresso Nacional em março do ano passado, o auxílio emergencial começou a ser pago em abril. Foram cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300, até dezembro, com valores dobrados no caso de mães chefes de família. No total, foram gastos R$ 294,3 bilhões para o pagamento do benefício a cerca de 68 milhões de pessoas.
No início desta semana, Paulo Guedes adiantou que o valor mínimo do novo auxílio será de R$ 175. "Se for uma família monoparental dirigida por mulher, é R$ 375. Se for um homem sozinho, é R$ 175. Se for o casal, é R$ 250", disse o ministro. Segundo ele, os critérios para a concessão do benefício estão sendo definidos pelo Ministério da Cidadania que, ontem, confirmou que o valor médio do benefício será R$ 250 e pago em quatro parcelas.
Os R$ 44 bilhões autorizados na PEC Emergencial representam quase sete vezes menos o total gasto em 2020. Em fevereiro, a Fenae mostrou que o novo valor do auxílio — na média de R$ 250 — corresponde a um terço do custo (médio) da cesta básica.
De acordo com dados divulgados na última semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o preço da cesta básica chega a R$ 639,81 em Florianópolis (SP), valor mais alto registrado pelo Dieese. Em 12 meses, o preço do conjunto de alimentos da cesta subiu 29,74%, naquela capital. “Como sobreviver com R$ 250 por mês em um país com índices crescentes de inflação e custos que não param de subir, especialmente o de alimentos?”, questiona o presidente da Fenae, que sempre defendeu a continuidade do pagamento do auxílio emergencial no valor de R$ 600 e até quando durarem os efeitos da pandemia.