O governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), deve anunciar nesta quarta-feira (10) medidas ainda mais rígidas para conter o avanço da pandemia. Entre as medidas podem estar presentes até mesmo a restrição funcionamento dos serviços essenciais (supermercados e farmácias), porém, as aulas presenciais permanecem.
A decisão do governo de restringir ainda mais a locomoção das pessoas vem diante do quadro de quase colapso do sistema de saúde paulista. O campeonato paulista deve ser suspenso, seguindo recomendação do procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubo, que também sugeriu a suspensão de atividades religiosas.
Porém, mesmo diante do avanço do coronavírus em São Paulo, o governo Doria insiste em manter as escolas funcionando de maneira presencial, que neste momento podem receber até 35% da capacidade total.
De acordo com o monitor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), que acompanha os casos de Covid-19 na rede estadual de ensino, até este momento já foram registrados 2190 casos em 994 escolas.
À Revista Fórum, a deputada estadual (PT-SP) e presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, que também é conhecida como Bebel, afirmou que a decisão de manter as escolas abertas é "absurda e inaceitável".
"O governo é responsável pelas mais de 2 mil infecções de profissionais da educação e estudantes ocorridas até o momento nas escolas estaduais desde o final de janeiro e pelos 34 óbitos que já registramos", afirma Bebel.
Fórum – O governo Doria afirmou que vai recorrer da decisão da Justiça que manda suspender atividades presenciais.
Bebel - As subsedes, os representantes e o departamento jurídico da APEOESP estão em campo para fazer cumprir a sentença judicial que determina a suspensão de aulas e atividades presenciais. O secretário da Educação já foi notificado e tem que cumprir a decisão. Terá que fazê-lo, de uma forma ou de outra. Os governos do PSDB sempre se recusam a atender à justiça, quando a decisão beneficia os servidores e a população. Estamos visitando as escolas e a nossa diretriz é de que devem ser fechadas para cumprir a ordem judicial.
Fórum - Como você analisa a postura do governo, mesmo contrariando orientação do procurador do Estado para não ter aula presencial, em manter as aulas presenciais?
Bebel - É absurda e inaceitável. O governo é responsável pelas mais de 2 mil infecções de profissionais da educação e estudantes ocorridas até o momento nas escolas estaduais desde o final de janeiro e pelos 34 óbitos que já registramos. Nada pode justificar essa queda de braço com o sindicato, tirando vidas preciosas e expondo milhares de professores e funcionários e milhões de estudantes ao vírus. Há muitas vozes dentro do próprio governo, como as do secretário da Saúde, da secretária do Desenvolvimento Econômico, do secretário do Desenvolvimento Regional que se opõem a manter as escolas abertas, mas este secretário não ouve nenhuma ponderação.
Fórum - O secretário de educação alega que os alunos além de perderem no quesito aprendizado e tem usado o discurso econômico/da vulnerabilidade de alguns estudantes, por isso seria necessário manter a escola aberta. Como a senhora analisa essa posição?
Bebel - Ele está expondo justamente a parcela mais vulnerável. Não há alimentação nas escolas, somente bolachas secas. Em muitas escolas faltam professores (por comorbidades ou pela greve) e ele determina juntar turmas, o que não garante em nada a qualidade do ensino. Se ele quer garantir segurança alimentar, deve enviar cestas básicas à casa dos alunos. Se quer zelar pela condição econômica, deve convencer o governo a instituir o auxílio emergencial estadual. O estado mais rico da federação tem condições de fazê-lo.
Fórum - De que maneira o governo estadual poderia trabalhar para efetivar acesso ao ensino remoto aos alunos que não possuem equipamento, Net ou celular?
Bebel - Além de diversificar os meios de difusão, usando rádio e TV, como sugerimos desde o início da pandemia, poderia mapear os estudantes sem nenhum tipo de acesso e garantir os equipamentos para isso. Em vez de manter escolas abertas, arriscando a vida de todos, os recursos deveriam ser canalizados para essa finalidade, porque a prioridade desse momento é proteger a vida.