A militante indígena Alice Pataxó está na COP26 para participar da versão jovem do evento sobre mudança climática da ONU, o COY16, em Glasgow. Presente no evento, ela afirma que um dos seus papeis é desmentir o governo Bolsonaro.
"Não tivemos contato com integrantes do governo brasileiro, e nem gostaríamos, até porque não seríamos bem recebidos. eles ficam dizendo que está tudo bem no Brasil. São absurdos que viemos aqui para desmentir", declarou Alice ao Globo.
Em suas redes, Alice Pataxó produz conteúdo direcionados às pessoas não indígenas e para tanto utiliza referências do mundo pop.
"Eu já era ativa no movimento estudantil, mas a reintegração de posse tem um reflexo muito forte na minha vida até hoje, é muito difícil lidar com o que aconteceu, mas isso me fez ter ainda mais garra na luta, não desistir dela, porque eu sentir a responsabilidade e a necessidade de mudar as coisas, de permitir que isso não aconteça com outras crianças", disse.
O ativismo de Alice começa após ela vivenciar a resistência dos indígenas à reintegração de posse na aldeia Araticum em 2015.
"É a primeira vez que saio do meu território, em um momento em que o Brasil vive uma forte decisão sobre as terras indígenas. Mas eu entendo a necessidade de me unir à juventude do mundo para falar sobre isso, para lutar pelo meio ambiente e criar soluções juntos. Estou orgulhosa de poder voltar para a minha casa e dizer para meu povo: não estamos mais sozinhos", disse Alice Pataxó durante o seu discurso na Coy16.
Além de abordar as questões referentes à militância política, Alice Pataxó fala sobre sexualidade, ela se autodeclara como bissexual, em suas redes e tem por objetivo quebrar caricatural dos indígenas.
"Somos mais do que as pessoas pensam, somos seres sociais e, portanto, diferentes, e complexos também, não somos a caricatura do 'índio' que conhecemos no Brasil. Eu quero que as pessoas entendam que somos indígenas, mas somo jovens, também estamos nas redes, e fazer parte disso não nos tira nossa identidade e cultura, mas se bem usadas, elas fortalecem nossos laços culturais, e exercem um poder de autoestima e orgulho de ser quem somo", disse.
"Eu sou bissexual, e eu precisava desmitificar a sexualidade e o gênero indígena. A homofobia não deve ser bem-vinda em nossos territórios, sempre fomos livres e precisamos continuar sendo. Eu fico muito feliz de como meu povo recebe o que tenho produzido e de como isso impacta as pessoas, algumas por incômodo, outros por admiração de uma sociedade em que todos gostariam de viver e que nós tentamos construir", finalizou.
Com informações d'O Globo