O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), que é desafeto de longa data do presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira (25) que encarou como "provocação" a recepção feita ao ex-presidente Lula na última semana em Paris. O petista foi recebido como chefe de Estado e participou de uma reunião com o mandatário francês.
"Parece que é uma provocação, sim. Será que o serviço de inteligência dele [Macron] não sabe quem foi o Lula aqui ao longo dos oito anos dele e mais seis de Dilma, o que foi feito no Brasil?", questionou Bolsonaro, contrariado.
Ignorando totalmente a péssima gestão ambiental do seu governo, ele afirmou que Macron "sempre foi contra" ele por ser um concorrente em relação a exportações agrícolas. "O que interessa para alguns países do mundo é ter alguém sentado nessa cadeira que eu estou aqui simpático à política deles."
Bolsonaro disse ainda que Macron teria "um problema" com ele e que os ataques ao Brasil são injustos. "Interessa mais a ele (Macron) ter uma pessoa passiva, corrupta como é o Lula, aliado dele, no futuro do que eu", completou.
Durante passagem pela Europa, Lula chegou a ser aplaudido de pé no Parlamento Europeu. Irritado por não ser bem visto na Europa, Bolsonaro tentou menosprezar a popularidade de Lula, dizendo que o número de pessoas no Parlamento Europeu "não era significativo".
"É a mesma coisa se chegar o Maduro aqui no Brasil, vamos supor... Ele vai ser aplaudido pelo pessoal do PSOL, do PDT, do PCdoB e do PT na Câmara dos Deputados. Não quer dizer que a Câmara apoie isso que está acontecendo na Venezuela. Então, tudo é um jogo político", opinou.
Relação conturbada
Bolsonaro e Macron já trocaram farpas diversas vezes, principalmente em relação à proteção do meio-ambiente e da Floresta Amazônica. Antes mesmo de assumir a presidência, Bolsonaro foi alvo de questionamentos por parte de Macron.
Em um encontro no final de 2018 em Buenos Aires, o francês colocou em dúvida o compromisso do Brasil na questão ambiental. Já durante a cúpula do G7, em 2019, na França, Macron deixou o Brasil de fora e convidou o Chile como o interlocutor latino-americano. Dias depois, em um ataque pouco elegante, Bolsonaro fez críticas a Brigitte, esposa do presidente francês.
Macron também irritou Bolsonaro ao falar da internacionalização da Amazônia, caso os líderes da região não tomassem medidas para protegê-la. Em resposta, o presidente afirmou em seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, ser “uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade”.
Sucesso do giro de Lula pela Europa
Em poucos dias no Velho Continente, Lula teve mais encontros com lideranças políticas do que Bolsonaro teve, por exemplo, durante toda a sua passagem por Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que, para muitos, o presidente passou vergonha.
O petista, logo nos primeiros dias de viagem, se reuniu e arrancou elogios do provável futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursou e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, tendo se reunido ainda com a vice-presidente da casa legislativa. Além disso, teve uma recepção calorosa na França, onde foi agraciado com o prêmio Coragem Política, da revista Politique Internationale, e almoçou com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro passeava com uma grande comitiva nos Emirados Árabes, onde, sem reuniões importantes, chegou a fazer uma “motociata”. Isso pouco depois de ir à Itália e ficar “perdido” no âmbito da reunião do G20.