As lideranças do povo indígena Munduruku viram as ameaças contra elas aumentarem desde que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi à cidade de Jacareacanga (PA), próxima de seu território, e apoiou publicamente a atividade de garimpo na área – que é ilegal.
A visita de Salles aconteceu no início de agosto. Na ocasião, ele conversou com os garimpeiros e apoiou publicamente a atividade.
O aumento das ameaças foi denunciado em uma carta entregue pelas lideranças ao Ministério Público Federal (MPF). A entrega foi feita em uma solenidade com a presença de procuradores e juízes. O documento foi divulgado nesta segunda-feira (31).
Segundo o relato dos indígenas, uma liderança teve que fugir de sua própria aldeia e está escondida.
“Existem pessoas fora da terra indígena investindo para aliciar lideranças e ameaçar as que resistem. A ida do ministro Ricardo Salles fez com que os garimpeiros se sentissem muito protegidos. Ficaram mais ousados”, disseram as lideranças indígenas no encontro. “Agora temos garimpeiros e quadrilhas que agem ilegalmente nos territórios se sentindo protegidos pelo governo brasileiro”, afirmaram os Mundurukus.
Investigação
A visita de Salles aconteceu no dia em que uma operação do Ibama no local tentava coibir a prática do garimpo ilegal no território. Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) foram enviados para apoiar a operação. Contudo, ela foi suspensa pelo Ministério da Defesa. No dia seguinte, uma das aeronaves transportou supostas lideranças indígenas para Brasília para se encontrarem com Salles. Mas os Mundurukus denunciaram que eram, na verdade, garimpeiros ilegais. Por isso, o MPF instaurou inquérito para apurar se houve improbidade administrativa por desvio de finalidade.
“A atividade de garimpo não cessou por causa do isolamento social. Quando a operação [de fiscalização] foi cancelada, foi dito pelo ministro que o povo Munduruku tinha pedido a suspensão da operação e isso não é verdade”, disse Ademir Kaba, liderança Munduruku, durante o encontro. “Foram 7 mundurukus ligados ao garimpo para Brasília e eles não nos representam, não representam o povo Munduruku. A gente se sentiu ameaçado e por isso tivemos que agendar uma reunião emergencial para definir qual caminho iríamos tomar contra essa situação”, relatou.
Intoxicação por mercúrio e ataque de garimpeiros
Durante o evento, foram apresentadas as conclusões de uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) sobre a contaminação por mercúrio entre os Munduruku concluída recentemente. O estudo mostrou níveis de mercúrio até oito vezes acima do normal na população. Ela já apresenta sintomas de intoxicação como problemas neurológicos, perda de reflexos e dificuldades de locomoção. A equipe que iria apresentar o resultado dos estudos para os caciques Munduruku foi atacada por garimpeiros na mesma pista de pouso em Jacareacanga onde Salles esteve no início de agosto. Eles foram obrigados a retornar para Santarém.