*Por Erica Montanheiro
O posicionamento de Regina Duarte na entrevista da CNN não me causou surpresa alguma. Achei excelente que ela tenha (mais uma vez) mostrado a que veio.
A minha surpresa eram os vídeos das semanas anteriores de colegas perguntando “Cadê Regina”? Ora. Ela não fez e não fará absolutamente nada pela Cultura do Brasil. Sabem por quê? Porque ela está lá, como uma boa noivinha obediente, para servir o patriarcado e o projeto necropolítico de Bolsonaro e seu clã de milicianos. Ela representa o pior papel que uma figura feminina pode se prestar a fazer: a mulher servil e obediente, boa moça, “leve”, alegre, inofensiva, com quem o presidente “fica contente”, “passa bons momentos”, “ri”.
Claro, afinal mulher é pra isso, pra se passar bons momentos. Claro, afinal a cultura é esse algo lindinho e ingênuo como o pum do palhaço, “como fez sucesso o pum do palhaço”. Com ela o presidente ri, desanuvia, afinal essa coisa da pandemia tem deixado tudo muito “mórbido”. As mulheres são “café-com-leite” no governo Bolsonaro. No dia-a-dia o presidente, ao lado de homens, enfrenta a vida, a gripezinha, “feito homem”, sem máscara, escarrando perdigotos como bom machão na cara de quem estiver perto, mandando calar a boca, achando que a vida dele vale mais que a de mulheres que agem “feito homem” (aquelas mulheres que dizem que foram eleitas pelo povo e que não serão interrompidas numa sessão parlamentar). Regina não . Regina é o cor-de-rosa da Damares, é a representação comportada, agradável, é o motor do machismo, da misoginia, do patriarcado e da política de extermínio proposta por este governo.
E a quem queríamos enganar? Ela não vai mexer uma palha pela Cultura porque o projeto de cultura neste país está morto. Ele agonizava desde o golpe de 2016, este “projeto” de cultura já fazia parte do grupo de risco, agora pegou covid e não tem respirador. Esse senhor nefasto que ocupa o executivo já desejava a morte dos artistas há tempos e agora ele tem a oportunidade de dar o golpe final. Entendam. Isto é uma guerra. Bolsonaro e seus seguidores agem assim: não concorda comigo, você é portanto meu inimigo, cala a boca e morra. Eles se exaltam, dão xilique ao serem contrariados, como se a esfera pública fosse a sala de estar da casa deles. Você está de qual lado da trincheira? Esperar que Regina faça algo pela classe, que ela tire algum dinheiro público para pagar artistas é comungar desta hóstia suja. Mas atenção: ela pediu doações de cestas básicas a alguns prefeitos para os artistas de circo! Ela prorrogou os prazos para prestação de contas da Rouanet (oi?!)
O jeito de Regina ao mencionar a briga dos “meninos” (Bolsonaro e Moro, faltou falar ”coisa de homem brigar assim”), ao enrolar pra responder as perguntas desconfortáveis, seu xilique, seu negacionismo, seu comportamento perverso em relação aos mortos no Holocausto, na ditadura e na pandemia me envergonham como mulher, artista e cidadã brasileira. Ela proporciona que se reforce todos os preconceitos contra mulheres e nos coloca numa posição submissa, subserviente, servil e desequilibrada. O desserviço que ela presta à cultura e às mulheres, além do serviço que presta a esse governo necrófilo são incalculáveis.
E você, cidadão de bem que elegeu esse crápula: eu vou morrer por um tempo como trabalhadora da cultura mas minha alma penada de artista não te deixará dormir em paz. E assim como o coronavírus…vocês eleitores desse lixo, a Regina e o coiso também vão passar.
*Erica Montanheiro é atriz