Dinheiro de paraísos fiscais financia desmatamento na Amazônia, aponta estudo

Dos R$ 104 bilhões que as empresas de pecuária e soja receberam de fora do país no período analisado, R$ 71 bilhões foram transferidos via paraísos fiscais, contribuindo para aumentar o desmatamento na Amazônia

Foto: Instituto Socioambiental - ISA
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Um estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution aponta que, entre 2000 e 2011, 68% do dinheiro vindo do exterior que abasteceu as indústrias da soja e da carne, que operam na Amazônia, chegaram ao país via paraísos fiscais. Ilhas Cayman, Bahamas e Antilhas foram os países mais acionados. Segundo Victor Galaz, pesquisador do Stockholm Resilience Centre e responsável pelo estudo, os setores de soja e carne bovina estão associados ao desmatamento na Amazônia, como estudos já mostraram. E um acesso maior ao capital permite o aumento do desmatamento. Os paraísos fiscais garantem pelo menos três benefícios aos investidores: eficiência jurídica, redução de impostos e sigilo absoluto. Relatórios publicados por instituições como o Banco Mundial já apontaram a relação entre paraísos fiscais e atividades ilegais, como lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e terrorismo. O estudo investigou os números das quatro maiores empresas do setor da carne que operam na Amazônia – Bertin, JBS, Marfrig e Minerva – e das cinco maiores do ramo da soja: Bunge, Cargill, Archer Daniels e Midland, Amaggi, Louis Dreyfus. Dos R$ 104 bilhões que as empresas receberam de fora do país no período analisado, R$ 71 bilhões foram transferidos via paraísos fiscais. Os dados usados na pesquisa foram obtidos junto ao Banco Central do Brasil. Segundo os autores, esses valores são injetados nas empresas por meio de transações financeiras declaradas como empréstimos, operação de leasing ou aluguel, pagamento antecipado das exportações e financiamento de importações. Além das conexões com atividades ligadas ao desmatamento na Amazônia, o artigo analisou dados do setor da pesca. Os autores concluíram que 70% das embarcações envolvidas na pesca ilegal, não declaradas e não regulamentadas, estão ou foram registradas em paraísos fiscais. Para os cientistas, as taxas de impostos reduzidas dos paraísos fiscais devem ser consideradas um subsídio indireto para setores que degradam o meio ambiente.