PM faz palestra armado em escola infantil em Goiás

A palestra teve como título “O Pai que Sou” e, de acordo com denúncia de pais de alunos, foi repleta de “falas discriminatórias aos modelos de família que não sejam tradicionais”.

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A palestra teve como título “O Pai que Sou” e, de acordo com denúncia de pais de alunos, foi repleta de “falas discriminatórias aos modelos de família que não sejam tradicionais”. Por Julinho Bittencourt Um Cabo da Polícia Militar de Goiás identificado como Sidney, fez uma palestra, no último sábado (26), em uma escola de educação infantil do município de Trindade, em Goiás, com uma arma no coldre. A palestra, que ocorreu durante mostra cultural dos alunos do C.M.E.I. Abadia José dos Santos, teve como título “O Pai que Sou” e, de acordo com denúncia de pais de alunos, foi repleta de “falas discriminatórias aos modelos de família que não sejam tradicionais”. Diante do fato, a comunidade de pais da escola elaborou uma nota de repúdio, onde é citado, além do uso da arma de fogo, o discurso do cabo Sidney que “defendeu, de forma bastante enfática, que ‘a única família correta e aceita por Deus, é a família que tem um pai, uma mãe e seus filhos’. O grupo considera no documento a fala do policial “infeliz e excludente, CONSIDERANDO que, nossa comunidade é constituída por vários arranjos familiares, sendo grande maioria monoparental”. De acordo com testemunhos de pais, o policial “disse ainda que o papel da mãe é cuidar da casa e dos filhos e que o pai deve sair para trabalhar para prover o sustento da família. O que não corresponde com nossa realidade e configura uma fala machista e discriminatória”. A prefeitura de Trindade foi procurada pela Fórum e até o momento não se pronunciou. Leia abaixo na íntegra a nota de repúdio da comunidade de Pais do C.M.E.I. Abadia José dos Santos: Trindade, 30 de agosto de 2017.   Ao Sr. Secretário de Educação João do Carmo Freire Nota de repúdio A comunidade de Pais do C.M.E.I. Abadia José dos Santos, vem por meio dessa nota, manifestar total repúdio ao acontecimento lamentável ocorrido no ultimo sábado, 26/08/2017, durante a “Mostra Cultural” dos alunos. No evento, presenciamos uma palestra com o título “O pai que sou”, ministrada pelo cabo Sidney da Polícia Militar de Goiás. Nessa palestra o cabo Sidney faz falas discriminatórias aos modelos de família que não sejam tradicionais. Fardado e de porte de arma de fogo, o cabo Sidney defendeu, de forma bastante enfática, que “a única família correta e aceita por Deus” é a família que tem um pai, uma mãe e seus filhos. CONSIDERANDO que, nossa comunidade é constituída por vários arranjos familiares, sendo grande maioria monoparental. CONSIDERAMOS infeliz e excludente a colocação sobre o tema. Usando sua própria vivência como padrão. Disse ainda que o papel da mãe é cuidar da casa e dos filhos e que o pai deve sair para trabalhar para prover o sustento da família. O que não corresponde com nossa realidade e configura uma fala machista e discriminatória. EXPRESSAMOS nosso repúdio a essas falas e nosso imenso respeito a todas as mães que trabalham fora e sustentam seus filhos, muitas vezes sozinhas. RESPEITAMOS também todos os pais que, em decorrência do destino, criam seus filhos sozinhos, porém com amor e dedicação. e que assumem seu papel com responsabilidade, que vai além dos atos diários de alimentar e trocar fraldas. ENTENDEMOS que o principal papel da Escola é possibilitar espaços de diálogo que respeitem as etnias, credos, religião, crenças, gênero e orientação sexual.  Visto que a Carta Magna Brasileira prevê, no Art. 3.º, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. RESSALTAMOS também a fala discriminatória e ostensiva sobre a questão da homossexualidade. CONSIDERAMOS que as falas do Policial, pode levar a reprodução de discursos, homofóbicos, promovendo o ódio e autorizando nossos filhos a desrespeitarem uns aos outros e incitando pais e familiares a discriminarem outros tipos de família. QUEREMOS também que o C.M.E.I. respeite a Laicidade da Escola pública, estabelecida na Constituição Federal de 1988. Onde obtivemos conquistas na educação, para o exercício de uma cidadania: dialógica, plural, laica, contextualizada, crítica e emancipatória. Pois ENTENDEMOS não ser correto que, uma escola pública receba um convidado para fazer doutrinação religiosa específica, ao contrário, um espaço público deve respeitar todas formas de crença. Diante dos fatos e considerações realizadas, SOLICITAMOS e ESPERAMOS, que o C.M.E.I. Abadia José dos Santos, reveja seu posicionamento em respeito à trajetória de cada família, de cada criança, independentemente se o núcleo familiar, seja seus avôs, tios, irmãos etc. E principalmente aos pais que se sentiram não representados. REIVINDICAMOS que a unidade, publique uma retratação; Seja por via de palestra com Profissional da ÁREA de Educação, ou Psicologia. Seja por nota de retratação. CONSIDERANDO o Art. 2º da LDB sobre o princípios e fins da educação nacional onde é explicitado que; A educação, é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, e tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. REIVINDICAMOS, baseados no princípio da gestão democrática Art. 3º item VIII da LDB que haja uma construção COLETIVA, composta por (Pais, Mães, Funcionários, Professores e Alunos) sobre a organização e definição das programações da unidade, bem como na participação ativa da construção dos projetos políticos pedagógicos. Tal atitude é prevista no direito democrático, pelo qual a educação é pautada. SOLICITAMOS também, que a Secretaria de Educação e Cultura se posicione sobre tal acontecimento. ATENCIOSAMENTE, a comunidade de pais e Moradores.