Mais um menino preto

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Escritora Cidinha da Silva comenta morte do adolescente baiano Guilherme dos Santos Pereira da Silva, de 17 anos, baleado por seguranças enquanto comia frutas no quintal de um restaurante Por Cidinha da Silva* Ei Shuravel, sabe a jaca que você não gosta? Que cai no chão, suja tudo e deixa para o seu olfato um cheiro insuportável? Pois é, mataram mais um menino preto aqui na Bahia por causa dela. Porque comia jaca no quintal de um restaurante sem pedir licença, você acredita? Quatro meninos estavam sentados, comiam jacas caídas no chão de uma terra grilada, que se tornou propriedade privada defendida por homens armados. Frutas a serem devoradas por bichos ou varridas, jogadas no lixo depois de espatifadas na queda. Sentados eles comiam, ouviram tiros e correram. Um deles se perdeu do grupo, sumiu. Tinha 17 anos, sonhos e vontade de comer jaca, planta nativa de pouco valor comercial. Os amigos voltaram para procurá-lo. A família foi avisada e também fez buscas. Passaram duas vezes pelo local onde depois de dois dias de sumiço, o corpo desfigurado, misteriosamente, apareceu. Como se tivesse estado ali, sempre. Os familiares reconheceram o boné e o relógio. O corpo, um irmão só conseguiu identificar por uma cicatriz na perna, 25 pontos levados após um tombo de cavalo. Não é inacreditável, Shuravel? Assistimos impotentes a mais um capítulo do genocídio da juventude negra. Dessa vez, uma vida eliminada por conta de uns bagos de jaca. Foto: Agência Brasil