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Professor Ubaldo César Balthazar assume a reitoria provisoriamente até a escolha do novo reitor. Segundo ele, foi negado a Luis Carlos Cancellier a presunção da inocência e o amplo direito à defesa. “Resolveram fazer essa espécie de Operação Lava Jato em Santa Catarina", diz
Por Lucas Vasques
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma das principais instituições federais de ensino do Brasil, sofreu grande abalo nos últimos meses. Depois de investigações, prisões, suicídio, exonerações, pedido de licenças médicas e muitos outros componentes de uma crise institucional, o professor Ubaldo César Balthazar, diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), assumiu interinamente a reitoria da universidade, depois do pedido de afastamento de Alacoque Lorenzini Erdmann, que assumiu após a morte Luis Carlos Cancellier.
Em 2 de setembro, Cancellier cometeu suicídio. Balthazar, que era próximo ao reitor, diz que está tentando colocar em andamento alguns projetos de Cancellier, e espera apenas ter calma e sabedoria para conduzir o processo de transição na universidade. Um novo reitor deverá ser escolhido no início de 2018. Ele falou com exclusividade para a Fórum, relembrando o que se passou e projetando o futuro.
Fórum – Quais foram suas primeiras medidas, depois de assumir a reitoria em caráter provisório?
Ubaldo César Balthazar – A decisão de me conduzir ao cargo de forma temporária, depois do pedido de licença de saúde da professora e reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, foi tomada em reunião do Conselho Universitário da UFSC, no dia 1º de novembro. Só estou aguardando a confirmação por parte do Ministério da Educação. A papelada já está na mesa do ministro Mendonça Filho, que deverá assinar nos próximos dias. A primeira medida depois que assumi foi promover a r designação dos 18 pró-reitores, secretários e assessores que haviam pedido afastamento. Ao todo, foram 19 que pediram exoneração das funções depois que a professora Alacoque, reitora em exercício, voltou atrás e desautorizou a abertura de processo e o afastamento do então corregedor Rodolfo Hickel Prado. Todos os 19 foram chamados de volta, mas um deles preferiu não retornar.
Fórum – O senhor já tomou ciência de toda a situação que está ocorrendo na UFSC e quais serão os próximos passos?
Ubaldo César Balthazar – Foi instituída uma comissão eleitoral, apresentada oficialmente ao Conselho Universitário da UFSC. Esta comissão é composta por representantes dos professores universitários dos técnicos administrativos e dos graduandos da UFSC, e vai colaborar para encerrar a vacância do cargo de reitor da UFSC. Vai auxiliar, principalmente, na formação da lista tríplice de nomes, que será enviada ao Ministério da Educação. Estamos tentando ganhar tempo para que o processo seja viável e transparente. A partir dessa lista tríplice será escolhido o nome do novo reitor.
Fórum – Já se reuniu com a Controladoria Geral da União (CGU) ou o MP para conversar sobre os fatos que ocorreram desde a prisão do reitor Cancellier? Em que pé estão as investigações sobre o corregedor Rodolfo Hickel Prado?
Ubaldo César Balthazar – Eu já me reuni com a Controladoria Geral da União (CGU) e foi um encontro bem amigável. Discutimos a forma de encaminhar as investigações sobre o corregedor, que também pediu licença de saúde por um período de 61 dias. A CGU me garantiu que esse processo de correição do trabalho do corregedor, que vai avaliar as atitudes tomadas recentemente dentro da UFSC, que desencadearam no atual cenário, já está em ação para que sejam apuradas as responsabilidades.
Fórum – Como avalia a Operação Ouvidos Moucos e a atuação da PF e do MP na condução do processo que levou o reitor Cancellier a ter um desfecho tão trágico?
Ubaldo César Balthazar – Na verdade, eu era muito próximo do reitor Cancellier e acompanhei de perto tudo que ele sofreu com a espetacularização na condução do processo. Ele era uma pessoa tolerante, pacífica e favorável ao diálogo. Tenho certeza que ele jamais se recusaria a prestar esclarecimentos na Polícia Federal, caso fosse chamado. Mas eles resolveram fazer essa espécie de Operação Lava Jato em Santa Catarina, que o humilhou, com revista íntima e prisão, além da proibição de ingressar nas dependências da UFSC. A universidade era o projeto de vida dele e tudo o que aconteceu foi fatal, induzindo o reitor à depressão e à morte. Houve falhas, erros e excessos. As supostas irregularidades aconteceram em gestões anteriores e ele foi acusado injustamente de tentar obstruir a investigação da corregedoria. Foi negado ao reitor Cancellier a presunção da inocência e o amplo direito à defesa.
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Fórum – Como analisa a atuação da antiga reitora, a professora Alacoque Lorenzini Erdmann?
Ubaldo César Balthazar – Acho que ela foi submetida a uma intensa pressão. Ela revogou a portaria do chefe de gabinete, que determinava o afastamento e a correição do corregedor-geral da UFSC. Foi tão coagida que se sentiu na obrigação de revogar a portaria, o que ocasionou a exoneração de toda a equipe. Não posso julgá-la, pois sei que a professora sempre foi uma pessoa muito séria, que sofreu grande constrangimento, o que fez com que ela se sentisse mal, em pânico até. Ela não aguentou a pressão.
Fórum – Quais seus planos e projetos para o futuro da UFSC?
Ubaldo César Balthazar – Tenho clareza de que minha gestão vai ser curta. Estou totalmente resolvido de que não vou concorrer na próxima eleição, até mesmo para poder conduzir melhor essa transição. Nesse meu início, estou tentando colocar em andamento alguns projetos do reitor Cancellier. Estou muito confiante que em breve vamos voltar a um período de normalidade. O retorno dos pró-reitores, secretários institucionais e assessores facilitará o processo de condução e normalização. A UFSC merece conduzir de forma plena sua autonomia como universidade. Este é o sentido de minha missão.
Foto: Reprodução/NSC TV