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"Isso é um sinal de que, se consumado o golpe amanhã, depois virá um processo duro de repressão". Bombas, jatos d'água e balas de borracha lançados pela PM, que atingiram até mesmo a reportagem da Fórum, marcaram o ato que pedia "Fora Temer" no mesmo dia da defesa de Dilma no Senado. Confira como foi
Por Victor Labaki
No mesmo momento em que a presidenta eleita Dilma Rousseff exercia seu direito de defesa no Senado, manifestantes que pediam o fim do processo de impeachment e a saída do presidente interino Michel Temer foram reprimidos pela Polícia Militar em São Paulo na noite desta segunda-feira (29).
O ato começou na Praça do Ciclista, esquina da Avenida Paulista com a Consolação, e seguiu no sentido Paraíso. Ao chegar na altura do Masp, a Polícia Militar fez dois cordões para impedir a passagem dos manifestantes: na frente estavam policiais sem armas que não conseguiram parar a multidão que caminhava pacificamente. Atrás deles policiais da Tropa de Choque ficaram posicionados com escudos e armas de bala de borracha.
Quando as pessoas passaram por esse primeiro cordão, a Tropa de Choque jogou bombas de efeito moral contra a manifestação. Idosos, crianças e vendedores ambulantes foram atingidos pelas bombas que não paravam de cair mesmo depois do ato ter recuado um pouco.
[caption id="attachment_89436" align="alignright" width="459"] Bomba de gás atinge ciclista que passava pela avenida Paulista. (Foto: Christian Braga/Jornalistas Livres)[/caption]
Em seguida, um homem que se apresentou como liderança tentou dialogar com o Comandante Teles, responsável pela operação que justificou a atitude da corporação.
"Eu estou tentando conversar com a liderança para saber o trajeto. Eu tenho que saber até para prover segurança", disse. Questionado sobre a presença de idosos e crianças, e a responsabilidade sobre a ação, o comandante se limitou a dizer: "A operação está sob meu comando". Veja o vídeo da conversa abaixo.
Os manifestantes ficaram inconformados com os ataques, fizeram barricadas, se sentaram no chão e não saíram da avenida. Enquanto isso, Raimundo Bonfim, da Frente Brasil Popular, dava entrevista aos jornalistas.
"O trajeto não é o problema, a caminhada estava pacífica na Avenida Paulista. Na verdade o objetivo deles é proteger a Fiesp", dizia sempre olhando preocupado para o cordão do Choque.
Para ele, a Polícia Militar deu um recado do que está por vir.
"Isso é um sinal de que, se consumado o golpe amanhã, depois virá um processo duro de repressão aos movimentos sociais, inclusive colocando em risco um direito nosso de se manifestar, garantido na Constituição", completou.
Para impedir o avanço da PM, algumas pessoas colocavam fogo em sacos de lixos atravessados pela Avenida Paulista. Esse movimento só aconteceu depois que as primeiras bombas foram jogadas.
Depois a polícia paulista deixou de ficar parada para avançar no sentido dos manifestantes, disparando bombas com maior alcance e andando rumo ao shopping "Center 3", onde se concentravam pacificamente a maioria das pessoas.
[caption id="attachment_89435" align="alignleft" width="466"] Tropa de Choque utilizou o tanque conhecido como "caveirão" para avançar contra os manifestantes. (Foto: Christian Braga/Jornalistas Livres)[/caption]
Foi mais ou menos nessa parte da Avenida que o "Caveirão do Choque" apareceu disparando jatos d'água. A reportagem da Fórum, devidamente identificada, foi atingida por um desses jatos. Além da água, o caminhão também disparava bombas com muito mais eficiência para cima de quem se encontrava na Praça do Ciclista.
A quantidade de bombas aumentou e os manifestantes seguiam gritando palavras de ordem contra o presidente interino e a Polícia Militar. Na Consolação, o ato começou a se dispersar. Uns seguiam correndo pela rua que liga a região central da cidade com a Avenida Paulista enquanto uma outra parte fugia pelas ruas do bairro do Higienópolis.
Na altura da praça Roosevelt, aproximadamente 15 motos da ROCAM (Ronda Ostensiva com Apoio Motocicletas) chegaram e jogaram mais bombas em quem estava caminhando e correndo pacificamente. Inclusive entrando na praça e atirando balas de borracha mesmo em quem não estava na manifestação.
"Eu nem estava na manifestação", disse um garoto que precisou se abrigar na Igreja da Consolação para fugir das bombas.
[caption id="attachment_89437" align="alignleft" width="326"] Dezenas de pessoas ficaram feridas com os estilhaços das bombas e as balas de borracha disparadas pela PM. (Foto: Sérgio Silva)[/caption]
Quando as bombas já tinham acabado e os manifestantes e pessoas que não estavam no ato descansavam nas escadarias da praça, algumas viaturas chegaram, abriram as portas e começaram a disparar arbitrariamente balas de borracha e bombas de efeitos moral. Nesse momento a reportagem da Fórum foi atingida na perna por uma das balas de borracha.
A manifestação acabou e o tom do discurso das pessoas era o mesmo. Ninguém tinha entendido o porquê de tanta repressão.
"Eu sempre tomei muito cuidado em falar ditadura em respeito a galera que viveu, foi torturada e morreu em 64 até 85 e sei lá, eu não sei definir o que é isso. Mas isso é um golpe com certeza", disse Fábio Vitto.
A manifestante Giuliana Palma disse que os manifestantes estavam agindo da mesma maneira dos que pedem o impeachment de Dilma.
"A gente estava fazendo exatamente a mesma coisa que a direita faz na manifestação deles pelo "Fora Dilma". E daí quando a gente faz, quando a esquerda faz, quando a gente é contra o governo, eles jogam bomba e batem na galera que está parada", afirmou. Assista o depoimento completo dos dois manifestantes abaixo.
Não havia informação de presos e feridos até o fechamento desta matéria.
Veja os vídeos:
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Foto: Christian Braga/Jornalistas Livres