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Em sua fala inicial, a presidenta Dilma Rousseff defendeu a legalidade de seu governo, criticou a misoginia e interesse das elites econômicas e políticas no apoio ao governo interino. Dilma segue agora sendo questionada pelos senadores
Por Matheus Moreira
Às 9h53 a presidenta Dilma Rousseff, já no Senado, caminhou tranquila para a tribuna onde fez o seu discurso inicial durante 45 minutos contra contra o processo de impeachment. De acordo com a presidenta, o golpe foi planejado e encaminhado pelas elites econômicas e políticas, que teriam se sentido atacadas pela opção de um governo para os mais pobres e para a classe média.
A presidenta apontou que foi assombrada pela traição e pela violência do preconceito, mas que jamais pensou em renunciar pois acredita no Estado de direito e atribuiu às mulheres e à solidariedade do povo sua força.
“Por meio de manifestações de rua, reuniões, seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo esbanjou criatividade e disposição para a luta contra o golpe. As mulheres brasileiras têm sido, neste período, um esteio fundamental para minha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade. Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as brasileiras expressaram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como primeira mulher Presidenta do Brasil”.Dilma apontou a misoginia por trás do golpe e não deixou de ressaltar o conflito de classe que marcou e marca a história da América Latina ao citar os interesses da elite econômica feridos pela sua vitória nas urnas e consequentemente a vitória de pautas de empoderamento social e econômico das camadas mais pobres da sociedade. A presidenta afastada colocou o golpe como resultado das conspirações e citou o caso do presidente Getúlio Vargas, em que a tentativa de golpe o levou ao suicídio em 1954, e pontuou a história das tentativas de golpe contra Juscelino Kubitscheck e o golpe contra João Goulart, que possibilitou a tomada do poder pelos militares em 1964.
“Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais para que se empreste aparência de legitimidade ao governo que assume sem o amparo das urnas. Invoca-se a Constituição para que o mundo das aparências encubra hipocritamente o mundo dos fatos. [...] São pretextos, apenas pretextos, para derrubar, por meio de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, um governo legítimo, escolhido em eleição direta com a participação de 110 milhões de brasileiros e brasileiras. O governo de uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais consecutivas”.Após seu discurso inicial, a presidenta seguirá em interrogatório feito pela defesa, acusação e pelos senadores antes da votação, nominal e eletrônica, que definirá a manutenção ou cassação de seu mandato. Confira, abaixo, outros trechos do discurso da presidenta:
“Estamos a um passo de uma grave ruptura institucional. Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado”.
“Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela história. Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores. ”
“Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência. Hoje eu só temo a morte da democracia, pela qual muitos de nós, aqui neste plenário, lutamos com o melhor dos nossos esforços. ”
“Este processo de impeachment não é legítimo. Eu não atentei, em nada, em absolutamente nada contra qualquer dos dispositivos da Constituição que, como Presidenta da República, jurei cumprir. Não pratiquei ato ilícito. Está provado que não agi dolosamente em nada. Os atos praticados estavam inteiramente voltados aos interesses da sociedade. Nenhuma lesão trouxe ao erário ou ao patrimônio público. Volto a afirmar, como o fez a minha defesa durante todo o tempo, que este processo está marcado, do início ao fim, por um clamoroso desvio de poder.”