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Em entrevista à Folha de S. Paulo, presidenta afirmou que "maior traição" veio de seu vice, Michel Temer. "Você sempre acha que as pessoas têm caráter. Eu diria que ele não foi firme. Tem coisas que você não faz"
Por Redação
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, divulgada em partes neste sábado (28) e no domingo (29), a presidenta Dilma Rousseff afirmou que seu vice-presidente, Michel Temer, foi responsável pela "maior traição" no processo de impedimento. "E não foi no dia do impeachment. Foi antes. Em março. Quando as coisas ficaram claríssimas", diz. "Você sempre acha que as pessoas têm caráter. Eu diria que ele não foi firme. Tem coisas que você não faz", afirma, referindo-se ao peemedebista.
De acordo com Dilma, as conversas vazadas entre o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado e os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ex-presidente José Sarney, mostram que a causa real para o impeachment era a tentativa de obstrução da Operação Lava Jato. "As conversas provam o que sistematicamente falamos: jamais interferimos na Lava Jato. E aqueles que quiseram o impeachment tinham esse objetivo. Não sou eu que digo. Eles próprios dizem."
A crise econômica teria sido utilizada para criar um ambiente favorável à instalação e condução do processo de impedimento, segundo Dilma. "Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria. Todas as tentativas que fizemos de enviar reformas para o Congresso foram obstaculizadas, tanto pela oposição quanto por uma parte do centro politico, este liderado pelo senhor Eduardo Cunha", avalia. "Pior: propuseram as 'pautas-bomba', com gastos de R$ 160 bilhões. O que estava por trás disso? A criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment. Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo. A tese dele era a de que tínhamos que obstruir a Justiça."
O PMDB, para a presidenta, se deslocou do centro político para o espectro da direita em seu segundo mandato, graças ao comando de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Você passa a ter, de um lado, 25% [dos parlamentares] ligados à ala progressista, outros 20% à ala que já foi social-democrata. E, no meio, 55% sob o controle do senhor presidente da Câmara afastado, Eduardo Cunha. A situação do Brasil, se isso não for desmontado, é gravíssima", aponta.
Nestes termos, seria impossível fazer qualquer acordo com o presidente da Câmara. "Fazer acordo com Eduardo Cunha é se submeter à pauta dele. Não se trata de uma negociação tradicional de composição. E sim de negociação em que ele dá as cartas. Jamais eu deixaria que ele indicasse o meu ministro da Justiça [referindo-se ao fato de o titular da pasta de Temer, Alexandre de Moraes, ter sido advogado de Cunha]. Jamais eu deixaria que ele indicasse todos os cargos jurídicos e assessores da subchefia da Casa Civil, por onde passam todos os decretos e leis", diz Dilma. "Podem falar o que quiserem: o Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura [deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara]. Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha", argumenta a presidenta. "Vão ter de se ajoelhar."