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Durante muitos séculos não se reconheceu essa capacidade nos animais. Mas pesquisadores têm comprovado que eles possuem um tipo elementar de consciência suficiente para sua inclusão na comunidade moral. Agora, a ciência já está conseguindo mostrar que as plantas também possuem inteligência e capacidade de sentir, aprender, lembrar e reagir de maneira semelhante a nós
Por Marta Luciane Fischer, no EcoDebate
Está sendo divulgado nos sites de ciência e nas redes sociais a polêmica visão de Michael Pollan – jornalista, ativista americano e professor em Berkeley – de como as plantas percebem o mundo. É notório que os ecossistemas são mantidos através da inter-relação entre as espécies e destas com o meio. Dentro deste contexto surgiu o Homo sapiens. Segundo Desmond Morris, um influente biólogo e etólogo, os seres vivos possuíam desde sua origem um tipo de contrato, em que as espécies deveriam respeitar o espaço de cada uma.
Embora os seres humanos tenham feito parte desse contrato por quase 200 mil anos, há pouco mais de 12 mil o mesmo foi quebrado com o advento da agricultura, dominação sobre as outras espécies e explosão populacional. Desde então, os humanos vêm utilizando plantas e animais para suprir necessidades.
A partir do momento em que a humanidade passou a conceituar seus valores e categorizar seus comportamentos como certos ou errados, a consciência da dor física e mental foi considerada parâmetro de atribuição de status moral.
Durante muitos séculos não se reconheceu essa capacidade nos animais. Mas pesquisadores têm comprovado que animais possuem um tipo elementar de consciência suficiente para sua inclusão na comunidade moral. Não demorou muito e a ciência já está conseguindo mostrar que as plantas também possuem inteligência e capacidade de sentir, aprender, lembrar e reagir de maneira semelhante a nós.
Essa ideia na verdade não é nova. Há mais de 40 anos no livro “A Vida Secreta das Plantas”, Peter Tompkins e Chistropher Bird mostraram que a comunicação entre as células das plantas se dá através de impulsos elétricos. Estudos atuais mostram que as plantas podem reagir ao som de uma lagarta roendo uma folha, podem detectar gravidade, presença de água e perceber um obstáculo para o crescimento de suas raízes antes mesmo de entrar em contato com ele.
O fato mais polêmico é a possibilidade das plantas sentirem dor, atestada pelo fato delas responderem a anestésico. Pesquisadores alemães da Universidade de Bonn publicaram que as plantas libertam gases equivalentes a gritos de dor, constatados na captação de ondas sonoras originárias de gases liberados quando cortadas.
Segundo neurobiólogos as plantas podem ser consideradas seres conscientes no sentido de saberem onde estão e reagirem adequadamente aos estímulos ambientais. Correntes éticas biocêntricas defendem que devemos respeitar os seres vivos não por possuem estruturas nervosas e sensoriais complexas, pelo seu grau de consciência, nem pelo valor ou utilidade que possuem para os humanos. Mas sim por serem seres vivos e terem o direito de viver sua existência no planeta que compartilhamos.
Entretanto, a sociedade se apoia em parâmetros científicos, então estamos entrando em um momento que exigirá novas reflexões sobre nossas atitudes não apenas com relação aos animais, mas a natureza como um todo, compreendendo que nossas escolhas têm resultado em benefícios apenas para nós e que devemos buscar o equilíbrio.
Se antes proteger a natureza para que todos os seres vivos desta e de futuras gerações tivessem o mesmo direito de usufruir um planeta saudável era uma questão subjetiva, agora, com a comprovação de que as plantas também sentem, elas passam a se enquadrar nos parâmetros criados pelo homem justamente para se diferenciar da natureza. E agora? O que é certo ou errado?
Marta Fischer, bióloga, é doutora em Zoologia, coordenadora do Ceua-PUCPR e professora titular do mestrado em Bioética da PUCPR.
Foto: Pixabay