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"Minha recompensa é tão ilimitada quanto o mar, meu amor tão profundo, quanto mais eu dou a ti, mais tenho, pois ambos são infinitos" Shakespeare
“Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado” Gabriel García Marquez (O amor nos tempos do cólera)
Por Ronaldo Ribeiro, da Filadélfia O diretor Palestino Hany Abu-Assad foi mais uma vez nomeado para o Oscar de melhor filme estrangeiro (a primeira vez foi por “Paradise Now”). Se naquele filme Hany se empenhou em contar os últimos dias de dois terroristas suicidas, em “Omar” a estória reflete o cotidiano de jovens palestinos que se veem separados pelo muro construído por Israel. O protagonista Omar trabalha como padeiro e rotineiramente escala o muro para ver sua namorada, Nadia. Ambos se encontram em sigilo, e o pouco tempo que tem é dedicado aos sonhos de se casarem e de passarem sua lua de mel na França. Além do trabalho e da namorada, Omar está envolvido no ativismo político contra a Ocupação Israelense. Para tanto, ele se junta ao irmão mais velho de Nadia, Tarek, e a um outro amigo, Amjad, no planejamento de ações guerrilheiras. Antes que uma das ações aconteça, o espectador é convidado a experimentar um pouco das constantes humilhações pelas quais passam os palestinos. Em uma das cenas, quando Omar retorna de sua visita clandestina a Nadia, um grupo de patruleiros israelenses arbitrariamente o persegue e o para, pede sua documentação, e finalmente o submete ao vexame de se estender até se cansar, com uma perna só, sobre uma pedra. Alguns dias depois, Omar, Tarek e Amjad disparam um tiro certeiro, também arbitrariamente, contra um soldado israelense que se encontrava passivamente em seu posto. Daí em diante o serviço de inteligência israelense entra em cena. Rapidamente Omar é preso e submetido a interrogatórios e tortura. Colocado diante da opção de sair da prisão, com a condição de em um mês ser obrigado a delatar seus companheiros, ou de então permanecer preso até seu julgamento, Omar tenta ganhar tempo optando pela liberdade e delação. O jovem retorna à sua comunidade e tenta inutilmente reestabelecer a confiança de seus amigos, já que aqueles tinham sido manipulados por informações falsas de que Omar agora trabalhava para os israelenses. Seus dias são vividos clandestinamente, a fugir da polícia israelense que o pressionava por informações. Com cada vez menos vigor, Omar se sente isolado. Hany Abu-Assad mostra como a brutalidade da política externa israelense se traduz no cotidiano dos jovens palestinos que vivenciam a Ocupação. Apesar da beleza do filme, do charme e da competência de seus atores e atrizes, da sua fotografia de cores saturadas, do olhar poético e do abundante uso de metáforas poderosas, Hany não faz concessões em seu realismo, e apresenta um cenário amargo, hostil e atroz; apresenta o jovem palestino em um beco sem saída. Na Palestina dos tempos da Ocupação Israelense, ao contrário do que escreveu Gabriel García Márquez em “O amor nos tempos do cólera”, a memória do coração não elimina as más lembranças e enaltece as boas; lá o amor não move montanhas; lá o muro na Cisjordânia se mostra uma barreira intransponível entre dois jovens apaixonados. Mais ainda, os serviços de inteligência israelenses conseguem instaurar uma atmosfera de desconfiança e paranóia que esmigalha os laços de solidariedade entre os palestinos, principalmente dentre aqueles envolvidos em ações contra a Ocupação. Não há espaço para Romeos e Julietas porque a realidade é bastante brutal. A redenção de Omar não se encontra na morte com a amada mas sim no assassinato-suicídio como gesto urgente e cego de vingança. )