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O que segue abaixo é um link para meu mais recente artigo acadêmico, um estudo relativamente longo (8000 palavras) da interseção entre raça e sexualidade na obra de Gilberto Freyre, especialmente na trilogia Introdução à sociedade patriarcal no Brasil (Casa Grande e Senzala, Sobrados e mucambos, Ordem e progresso). O texto pode interessar também a quem busca uma introdução à recepção da obra de Freyre. Antes de passar ao tema do artigo propriamente dito, faço um pequeno resumo das correntes principais de leitura da obra do pernambucano, desde os primeiros artigos acerca de Casa Grande e Senzala (1933) até o que se convencionou chamar a recente "retomada freyreana".
Apesar de que tanto a questão racial como a sexualidade sempre estiveram no centro das discussões sobre Freyre, chamou-me a atenção que certas interseções entre os dois temas permanecessem indizíveis, tanto no texto freyreano como em sua fortuna crítica. "Indizível" aqui deve ser entendido em registro freudiano, ou seja, não como algo "não mencionado", mas como aquilo que emerge insistentemente enquanto indizível .
Assim, algumas das formas de expressão da sexualidade que entenderíamos como transgressoras e subversivas são extensamente tematizadas no texto freyreano com notável leveza: as aventuras de mulheres casadas, as vidas sexuais dos padres e as relações homossexuais entre garotos brancos e negros, para não falar, claro, da cena fundacional do mundo freyreano, o sexo entre o homem branco e a mulher negra.
Há uma outra cena, no entanto, que parece bem mais perturbadora e que não cessa de se inscrever, sendo sempre, no texto freyreano, exilada de forma preocupada para as notas de pé de página: falo do encontro do homem negro com a mulher branca, cena virtualmente ausente em toda a fortuna crítica de Freyre, apesar de estar longe, bem longe de ausente do texto de Freyre. Daí o título do artigo que os convido agora a ler:
Cenas dizíveis e indizíveis: Raça e sexualidade em Gilberto Freyre