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Para ambientalista Aron Belinky, é preciso criar plataformas de participação democrática da sociedade civil
Na última segunda (26), teve início a 18ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas – COP18. O encontro acontece até o dia 7 de dezembro e reúne representantes de 191 países em Doha, no Qatar. Novamente a questão das mudanças climáticas está em pauta, resta saber se as nações deixarão o evento com metas e compromissos efetivos.
Neste ano, expira o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, sem nunca ter sido ratificado pelos Estados Unidos, Rússia, Áustrália e abandonado por Canadá e Japão. Apesar disso, a COP18 pretende prorrogar o protocolo, estabelecendo um novo acordo global com metas de redução de gases de efeito estufa. A discussão traz mais uma vez à tona o conflito entre os países ricos e emergentes e o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
A dificuldade de se chegar a um consenso global já foi vista na Rio+20, quando movimentos sociais e sociedade civil ficaram desacreditados com as negociações no âmbito das Nações Unidas. O documento final produzido pela conferência - O futuro que queremos – recebeu críticas pela falta de ações concretas. Além disso, o conceito de “economia verde”, lançado pelo Pnuma, é apontado como uma forma de mercantilização dos bens comuns.
Apesar dessa descrença, o ambientalista Aron Belinky, coordenador da ONG Vitae Civilis, acredita que o documento final do Rio de Janeiro foi importante, pois, embora não se comprometa, reconhece a maior parte das agendas das lutas socioambientais.
Belinky destaca a dificuldade das negociações entre os países, “sempre condicionadas por uma rede de interesses”. “Não podemos virar as costas para o sistema multilateral da ONU, por mais que ele não seja efetivo, ele pauta”, afirmou, em entrevista coletiva a comunicadores durante oficina de jornalimo ambiental promovida pela Fundação Friedrich Ebert (FES) na sede da Viração, em São Paulo.
Com os países da Europa e EUA em crise, a pauta ambiental, porém, dificilmente é colocada como prioridade. Conforme explica Belinky, a agenda de desenvolvimento sustentável traz um caminho para a sociedade que hoje não é hegemônico. Pelo contrário, atualmente a economia é descolada da natureza e é difícil aceitar que o planeta tem limite.
O caminho que os países escolhem para sair da crise tem sido pautado pela lógica do consumo e não pela do bem-estar de todos. Para Belink, isso também acontece no Brasil. “O Brasil está trabalhando um projeto de desenvolvimentismo a lá anos 1970, um industrialismo da segunda metade do Século 20”, pondera.
Hora de 'hackear' a ONU
Enquanto a agenda do desenvolvimento sustentável encontra dificuldades para sair do âmbito do discurso, cresce o grupo dos chamados “céticos”, que negam o aquecimento global. Há ainda aqueles que propõem que a tecnologia é a solução para as mudanças climáticas. Um exemplo é o projeto de estocagem de carbono estudado pela Petrobras. A lógica é a seguinte: não aponta para a redução de emissões e ainda gera um novo negócio.
Mas e os limites do planeta? De acordo com a Global Footprint Networks, que mede o impacto dos seres humanos na Terra, a chamada “pegada ecológica”, em 2030, serão necessários dois planetas, se nada mudar. “Não tem jeito, o mundo tem limite, por isso tem que redistribuir para atender a todos, tem que mudar o modelo, e isso não se reconhece”, diz Belinky.
As saídas sugeridas pelo ambientalista são apostar na informação e na construção de pautas comuns que possam avançar. Ou seja tentar encontrar consensos e não inimigos. “Um dos pontos fundamentais é estarmos minimamente informados [sobre o que aconteece na ONU], hoje acho que não estamos”, afirma.
Outra questão é como os movimentos socioambientais e sociedade civil podem paticipar e influenciar os debates da ONU. Para isso, é fundamental que haja plataformas de participação. “A ONU está completamente perdida, não tem a menor noção do que significa trabalhar numa plataforama colaborativa”, explica Belinky. “Ela está querendo entrar na era da sociedade em rede e comunicação aberta mas não sabe como. Não adianta ter canais abertos, sem processo democrático.”, finaliza.