BRASIL

Crimes sexuais: Vítimas têm raça, classe e faixa etária, diz pesquisa

Levantamento foi feito pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper e utilizou dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde

Representação fotográfica de uma vítima de estupro.Créditos: Reprodução
Escrito en MULHER el

Um levantamento do Núcleo de Estudos Raciais do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) mostra que as vítimas de crimes sexuais no Brasil têm raça, classe e faixa etária. A pesquisa foi feita a partir de dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde.

Entre as vítimas de estupros no país, 40% são crianças e adolescentes negras oriundas de famílias de baixa renda. O segmento representa 13% da população brasileira, de acordo com o Censo 2022 divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em comparação, a incidência de crimes sexuais sobre as vítimas negras com menos de 18 anos é o dobro da incidência em meninas brancas da mesma faixa etária. Se olharmos para as mulheres adultas, as negras seguem sendo mais vitimadas.

Quando o recorte é simplesmente etário, chamam atenção as 6 menores de 18 anos para cada 10 vítimas de estupro. 25,6% de todas as vítimas têm entre 0 e 10 anos, 39,2% têm entre 11 e 17 anos, 19,5% têm entre 18 e 29 e 15,7% têm mais de 30 anos.

À Folha, três dos pesquisadores que participaram do estudo apontaram que questões de vulnerabilidade social são os principais fatores que explicam a maior parte das vítimas ser negra e menor de 18 anos.

Ao todo, crianças e adolescentes negras são 40,1% das vítimas. Meninas brancas menores de 18 anos vêm a seguir, sendo 20% das vítimas. Mulheres negras (acima de 18 anos) são 19,9% das vítimas, enquanto mulheres brancas representam 13,3%. Outros casos - ou seja, pessoas com outras identificações raciais ou que não informaram tal dado - são 6,7%.

O número de casos notificados por vítimas negras aumentou no período estudado pelo Censo 2022 (2010-2022) em relação aos outros grupos. O número total de registros saltou de 7617 em 2010 para quase 40 mil em 2022. Doze anos atrás, talvez por conta da subnotificação, as vítimas negras eram 48%. Hoje são 60%.