O presidente Lula (PT) fez um discurso histórico nesta terça-feira (19) na abertura da Conferência Mundial das Nações Unidas (ONU). Entre os vários pontos abordados pelo mandatário, ele afirmou que o neoliberalismo é o responsável pelas desigualdades e chamou os líderes da extrema direita de "primitivos".
Aplaudido sete vezes ao longo de seu discurso, Lula também trouxe a questão racial, de gênero, LGBT+, climática e de pessoas com deficiência para o centro de seu discurso. Nesse momento, o presidente citou como referência a histórica feminista brasileira Bertha Lutz.
Te podría interesar
"Inspirados na brasileira Bertha Lutz, pioneira na defesa da igualdade de gênero na Carta da ONU, aprovamos a lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens no exercício da mesma função. Combateremos o feminicídio e todas as formas de violência contra as mulheres. Seremos rigorosos na defesa dos direitos de grupos LGBTQI+ e pessoas com deficiência. Resgatamos a participação social como ferramenta estratégica para a execução de políticas públicas", disse Lula na ONU.
À Fórum, a jornalista e pesquisadora Ana Prestes comenta sobre a importância de Lula citar Bertha Lutz como inspiração para o seu governo.
Te podría interesar
“Extremamente importante que Lula suba à tribuna da Assembleia Geral da ONU neste setembro de 2023 e dali cite o legado da grande bióloga e sufragista brasileira Bertha Lutz. Graças a ela, em articulação com outras delegadas latino-americanas presentes na assembleia de fundação da ONU, em São Francisco, EUA, em 1945, o preâmbulo da Carta da ONU incorporou o trecho: "(...) igualdade de direito dos homens e das mulheres (...)". Bertha é pioneira na luta pelos direitos das mulheres brasileiras e latino-americanas e merece ser melhor reconhecida pela população brasileira. Lula lançou luz sobre uma brasileira imprescindível para o Brasil do século 20”, disse Ana Prestes.
Bertha Lutz: uma vida dedicada aos direitos das mulheres
Ao trazer a figura de Bertha Lutz, que era zoóloga de formação, o presidente Lula dá outro peso ao seu discurso e deixa definitivamente para trás a era obscurantista de Bolsonaro (2019-22).
- Natural de São Paulo, Bertha Lutz nasceu no dia 2 de agosto de 1894. Sua mãe era a enfermeira inglesa Amy Fowler, e seu pai o cientista Adolfo Lutz.
- Bertha Lutz estudou e se formou em Biologia pela Sorbonne, na França, e foi nesse momento que ela teve contato com o movimento sufragista europeu.
- Ao retornar ao Brasil, em 1918, passou em um concurso como bióloga no Museu Nacional e tornou-se a segunda mulher brasileira a ingressar no serviço público brasileiro.
- Bertha Lutz ingressou na luta feminista pelo direito ao voto e, em 1919, junto com outras mulheres, fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que resultaria na Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino (FBPF).
- Em 1922, Bertha Lutz representou as mulheres brasileiras na Assembleia-Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, nos Estados Unidos, e foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana.
- Após muita pressão e articulação do movimento sufragista brasileiro, o presidente Getúlio Vargas estabeleceu o direito ao voto das mulheres por meio de um decreto-lei.
- Bertha Lutz também foi responsável por organizar o primeiro congresso feminista no Brasil e participou da fundação da União Universitária Feminina, a Liga Eleitoral Independente, em 1932.
- Em 1933, Bertha Lutz atuou na fundação da União Profissional Feminina e da União das Funcionárias Públicas.
- Ainda em 1933, Bertha Lutz concorreu a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte de 1934 pelo Partido Autonomista do Distrito Federal, mas não foi eleita.
- No entanto, em 1936, assumiu uma cadeira de deputada na Câmara Federal, pois era suplente da cadeira de Cândido Pessoa, que faleceu.
- Em 1945, Bertha Lutz integrou a delegação brasileira na Conferência que fundou as Nações Unidas, desempenhando um papel fundamental para a inclusão da igualdade de gênero no documento fundador da ONU.
- Bertha Lutz morreu em 16 de setembro de 1976, no Rio de Janeiro, aos 82 anos.