GÊNERO E RAÇA

Mulheres negras são as que mais sofrem com a desigualdade no mercado de trabalho

Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades acaba de lançar portal com indicadores de subutilização de mão de obra negra no Brasil

Créditos: Agência Brasil (Marcello Casal Jr.)
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A taxa de subocupação de mulheres é 54,3% maior ante os homens subutilizados na comparação por gênero no Brasil. Já no recorte racial, há 47,9% mais pessoas negras subocupadas em relação à mão de obra branca.  

Esses dados foram levantados pelo Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), que acaba de lançar o Painel Mercado Trabalho. O espaço reúne os principais dados raciais do universo do trabalho e aborda um novo percurso para a compreensão das desigualdades de gênero e raça.

O objetivo da iniciativa é dar destaque à taxa de subutilização da mão de obra feminina e negra como uma condição imprescindível para a correta compreensão da dinâmica das atuais desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro. 

De acesso gratuito e fácil utilização, o portal ceert.org.br/esg reúne estatísticas oficiais, como o número da subutilização de mulheres profissionais negras, por exemplo, que chega a ser 130% maior à quantidade de homens brancos à procura de um emprego ou em condições de consegui-lo. 

As estimativas da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua do IBGE (PNAD/2022) apontam ainda que, para muito além das quase 5 milhões de mulheres negras desocupadas no Brasil, a real quantidade de profissionais negras à espera de uma vaga de trabalho se aproxima a 12 milhões de pessoas.

Segundo o coordenador do Censo da Diversidade do Ceert, Mario Rogério Silva, o que explica essa grande diferença é o fato de que, na análise habitual do mercado de trabalho, a taxa de desocupação muitas vezes desempenha papel principal, mas há que se considerar aquelas mulheres que efetivamente procuraram por trabalho, mas não conseguiram e paparam, e também as desalentadas, que estavam disponíveis para assumir um trabalho, mas, por motivos diversos (como o desânimo gerado por sucessivos fracassos), não tomaram providências para consegui-lo.     

“O olhar para as questões de subutilização pode contribuir para o aprimoramento de propostas de ação afirmativa no mundo do trabalho, envolvendo políticas públicas, sindicais e privadas que deem conta do desafio colocado pela condição da trabalhadora negra no país”, sugere Silva. 

Enquanto nas estimativas de 2021, as mulheres negras representam 41,5% da força de trabalho subutilizada, os homens brancos alcançam 18,0% desse total, ou seja, quase metade das mulheres negras integrantes da chamada força de trabalho ampliada (que leva em conta subutilização) estava à procura de uma ocupação. E se for considerada a subutilização como um todo, é possível identificar uma maior presença, em termos relativos, de mulheres e pessoas negras em condição de subocupação e força de trabalho potencial.