A professora de inglês Virginia Ferreira, que leciona há 20 anos na rede municipal pública de Vinhedo, cidade no interior de São Paulo conhecida por ser berço do Movimento Brasil Livre (MBL), foi filmada por uma aluna em sala de aula durante uma fala sobre feminismo e violência contra as mulheres no ano passado. Posteriormente, o vídeo foi utilizado pelo pai da estudante em uma denúncia que culminou em processo administrativo contra a professora, encerrado nesta segunda-feira (17).
O caso aconteceu na Escola Municipal Professor Ricardo Junco, poucas semanas antes da celebração do Dia Internacional da Mulher, no 8 de março. Ferreira conta que pediu em sua turma de 8º ano que os adolescentes respondessem um questionário e fizessem uma pesquisa em casa sobre alguns conceitos e correntes históricas do feminismo, relacionando a temática com o próprio conteúdo do livro didático.
“Já nesse processo a diretora me chamou para avisar que havia a queixa de mães de alunos. Pensei que se tratasse da abordagem, não do conteúdo, e me coloquei a disposição para explicar meu trabalho”, recorda Ferreira, em entrevista ao El País.
A reclamação, na verdade, era do pai de uma aluna, que acusava Ferreira de usar suas aulas para ensinar sobre feminismo e “ideologia de gênero”. “Minha aula não tem nenhuma estrutura de doutrinação, a gente faz um trabalho de diálogo, de conversa. Busco aproximar o conteúdo dos alunos e problematizar os temas trabalhados. É uma dinâmica já de anos em sala de aula”, disse a professora.
A gravação clandestina da estudante foi publicada na página oficial do MBL, no Facebook. Com a repercussão do caso, foi aberto um processo em agosto e, após seis meses, acabou arquivado nesta segunda-feira (17) por se considerar que não “houve configuração de irregularidade”. Neste período, a professora foi investigada por negligência e corria o risco de sofrer uma punição disciplinar, sendo a maior delas o afastamento de suas atividades. "Participei de todos os depoimentos. Quando depôs, o pai fez uma ameaça velada. Disse 'eu tenho muita coisa contra essa professora, ela vai ver”, recorda Ferreira.
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