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Em artigo para a Fórum, a jornalista que já denunciou o estupro cometido por Marco Feliciano dispara: "Eu tinha contato com praticamente todos os parlamentares que compõem a bancada evangélica, e se tem uma coisa que afirmo com muita certeza é que nenhum daqueles homens realmente defendem os direitos das mulheres. O que cada um ali defende é suas igrejas, seus interesses, e claro, seus direitos de lavar dinheiro nas igrejas". Confira
Por Patrícia Lélis
O próximo passo da bancada evangélica será obrigar a mulher a se casar com o seu estuprador
Na última quarta-feira (08/11) foi votada de forma covarde a PEC que quer criminalizar o aborto legal, e isso inclui o aborto em caso de estupro. Não podemos deixar de lado que o mais chamativo desse ato covarde, é que dezoito homens fizeram essa escolha. Isso mesmo, dezoito HOMENS. E como se não bastasse, a maior parte desses homens faz parte da bancada evangélica. A mesma bancada evangélica que apoia e encobre crimes de estupro.
Como a maior parte de vocês já sabem, eu vim da direita política, eu vim de dentro do PSC, eu tinha contato com praticamente todos os parlamentares que compõem a bancada evangélica, e se tem uma coisa que afirmo com muita certeza, é que nenhum daqueles homens realmente defendem os direitos das mulheres. O que cada um ali defende é suas igrejas, seus interesses, e claro, seus direitos de lavar dinheiro nas igrejas, já que não pagam impostos.
Meu intuito aqui não é jamais questionar ou criticar a fé de ninguém, até mesmo porque eu sou cristã, e acredito que Jesus foi o maior lutador de classes e defensor dos direitos das mulheres sobre a terra. E até Maria foi consultada para ser mãe de Deus. Porque nós não deveríamos ser consultadas sobre isso, trazendo para os dias atuais? Se nem mesmo Deus impôs algo a Maria, porque vamos deixar que dezoitos homens nos diga o que devemos ou não fazer sobre o nosso próprio útero?
Todos aqui já devem saber que comprei uma briga com a bancada evangélica e com os alienados religiosos ao denunciar o estupro do deputado/pastor Marco Feliciano. E é uma briga da qual eu não me arrependo. E volto a dizer: A bancada evangélica sabia, e tentaram por dois meses me silenciar. Tentaram me incriminar, e nada conseguiram. E volto a dizer: Eu não fui a primeira, mas espero ter sido a ultima. E jamais vamos aceitar caladas a imposição de ter filhos de estupradores. O ponto é: tem que ser uma escolha, e uma escolha da mulher. Se a mulher quiser ou não ter, ela tem que ter o direito de poder escolher sobre o seu útero.
Aconteceu que um tweet antigo, postado no dia 1 de agosto de 2013, pelo mesmo homem que me estuprou e atualmente responde por isso no STF, continha as seguintes palavras: “A lei brasileira já contempla o aborto em caso de estupro. Eu não concordo, mas é lei. Agora ampliam para sexo sem consentimento”. E como se não bastasse tamanha idiotice, o mesmo continua em uma segunda postagem: “Não há como comprovar que o sexo foi sem consentimento…É a palavra da mulher que engravidou e pronto. Não há como provar.” Para quem não conseguiu perceber o problema de tais palavras, eu posso explicar de uma forma rápida e dinâmica.
Primeiro que o principal interessado na legalização do aborto, principalmente em casos de estupro, deveria ser o próprio estuprador. Ainda mais se o estuprador for de direita, pastor, conservador e deputado. Pois esses são os primeiros a arrotarem o seu moralismo em todos os lugares, e também os primeiros a dizerem que a mulher “é louca”, caso ela denuncie qualquer tipo de crime. Não faz o menor sentido homens que estupram quererem que suas vitimas gerem esses filhos. E faz menos sentindo ainda que uma sociedade possa concordar com isso. E faz menos sentindo ainda um homem dizer com tanta certeza que a mulher não consegue provar que o sexo foi sem consentimento. Isso é a pessoa ter muita certeza da impunidade.
O segundo ponto é ainda mais fácil de entender, e só não entende quem não quer. Enquanto o aborto não for legalizado, as clínicas clandestinas vão continuar ganhando dinheiro com isso, e o pior, colocando a vida das mulheres em risco. E não vejo ninguém perguntando o motivo pelo qual essas pessoas tem tanto interesse em que o aborto não seja legalizado. Ou vocês acreditam mesmo que é por uma causa moral? Por uma suposta causa em nome de Deus? Realmente se você acredita nisso, lamento sua tamanha inocência.
Convido a TODOS os moralistas cristãos de plantão que se posicionam contra o aborto a pensar e interpretar o seguinte versículo bíblico: Em Êxodo 21:22-23 lemos que se alguns homens pelejarem “e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher e julgarem os juízes. Mas se houver morte, então darás vida por vida.” Sim, isso esta escrito na bíblia, é só vocês abrirem e lerem.
Agora pare e interprete que o aborto é relatado como um dano que a penalidade não passará de uma simples multa, mas a única morte considerada do texto é a vida da mãe, a vida da mulher. No texto bíblico vale a lei da época, que no caso é a “dente por dente e olho por olho”, que vinha do Talião. E não vale se declarar cristão mas não querer ler e entender a bíblia toda, e apenas retirar versículos que lhes convém. Ou a hipocrisia da sociedade não permitem isso?!
O aborto vai continuar existindo sendo legalizado ou não. Mulheres que tem dinheiro vão poder garantir um aborto seguro, sem causar danos a sua vida, e mulheres menos favorecidas, vão ser prejudicadas e muita das vezes podem até chegar a morrer. E volto a dizer que dezoito homens jamais deveriam poder discutir e decidir algo sobre a vida das mulheres.
O feminismo tem me ensinado todos os dias que em qualquer ambiente os homens querem ter o domínio, mas se tem uma coisa que o feminismo também me ensina todos os dias é que lutar para garantir nossos espaços e direitos na sociedade é sinônimo de resistência, luta e igualdade.
Por favor, tirem a sua religião e hipocrisia dos nossos úteros.
Foto: NINJA