Com o lema “Pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”, centenas de mulheres da Marcha das Margaridas ocuparam o plenário do Senado Federal, nesta terça-feira (15), para homenagear o evento, que realiza sua sétima edição este ano.
“Marchamos por democracia, soberania popular, poder e participação política das mulheres”, discursou a coordenadora-geral da Marcha e secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Mazé Morais. “Por isso, valorizamos esse espaço no qual estamos sendo recebidas agora. Nele queremos afirmar que somos solidárias às companheiras [parlamentares] que enfrentam constantemente a tentativa de silenciamento e de intimidação, como forma de violência, porém, não se calam e nem fogem da luta, como disse Margarida Alves”, continuou.
Te podría interesar
A coordenadora também lamentou a ausência de mulheres, principalmente negras e pobres, em espaços como o Congresso Nacional.
“A desigualdade social brasileira é preta e tem corpo de mulher. Se os nossos corpos existem é porque eles também resistem. E nós queremos que os nossos corpos estejam representados onde se toma a decisão, no lugar de poder, no Estado racista, patriarcal, machista, misógino e que não cabe a mulher. Notadamente se essa mulher for negra, indígena, periférica, do campo, da floresta e das águas”.
Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em http://benfeitoria.com/apoieAto18 e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.
A sessão foi presidida pelo senador Beto Faro (PT-PA) que discursou sobre dupla jornada feminina e direitos fundamentais. “Não deveria ser assim, mas, segurança alimentar, moradia renda, uma vida sem violências, ainda são privilégios de uma minoria, apesar de compor direitos universais previstos na Constituição Federal. A responsabilidade de mudar esse cenário é de todos os brasileiros e brasileiras, mas principalmente de nós, representantes eleitos pelo voto direto da população”, afirmou o parlamentar.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, celebrou a ocupação de Brasília pelas ‘margaridas’, nesta terça (15) e quarta-feira (16). A ministra relembrou a lei de igualdade salarial entre homens e mulheres - sancionada apenas em julho deste ano pelo governo Lula, e afirmou que a medida seguirá pelo país contra a misoginia e o feminicídio para enfrentar o ódio que tem estimulado todos os tipos de violência contra a mulher.
“Nós vamos marchar neste país junto com vocês contra a misoginia, o ódio, contra o feminicídio, contra o estupro e a violência sexual, porque esse é o nosso papel. A marcha é individual e coletiva. E ao governo cabe fazer políticas públicas. E nós vamos fazer política pública e implementá-las”, declarou a ministra.
Reconstrução e sustentabilidade
Sônia Maria Coelho Gomes Orellana, representante da Marcha Mundial de Mulheres, defendeu que para reconstruir o país é preciso colocar a sustentabilidade da vida no centro da política. “Não vamos reconstruir esse país se não tiver democracia, a mobilização social e, principalmente, a participação e o protagonismo das mulheres negras, das mulheres do campo, da floresta e das águas”, afirmou.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, enumerou as ações do governo federal nos primeiros oito meses de gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltadas às mulheres:
Incremento de recursos federais na assistência técnica rural (Ater) na agricultura comandada por mulheres, no Programa Nacional da Alimentação Escolar (Pnae), as compras oficiais de alimentos para os órgãos públicos, como hospitais, quartéis das Forças Armadas; o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mulher], o financiamento para compra de pequenos maquinários agrícolas que beneficiam esse público, são algumas das medidas tomadas pelo governo.
“O importante é continuar a marcha para mudar o Brasil e construir o país do bem viver. A revolução é ecológica e é feminina. Por isso, vamos transformar esse país em um lugar mais justo”, reforçou Paulo Teixeira.
Nesta quarta-feira (16), acontece também a apreciação do Projeto de Lei que registra o nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (PLC 63/2018). O senador Paulo Paim (PT-RS), relator da proposta, parabenizou o governo federal pela sanção da lei. “Quem ganhou foram as mulheres, foram os homens e o Brasil ganhou igualmente”.
Após a sessão solene no Congresso, as margaridas retornaram ao Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília. A programação em curso conta com diversas atividades entre oficinas temáticas, painéis e rodas de conversa, abertas ao público.
A Marcha das Margaridas
“Ampla ação estratégica das mulheres do campo e da floresta”, a Marcha das Margaridas busca denunciar, pressionar e também propor diálogo e soluções para acabar com as múltiplas formas de violência contra as mulheres, especificamente as do campo, da floresta e das águas.
A marcha leva esse nome em homenagem à Margarida Alves, agricultora, defensora dos direitos humanos e trabalhistas e primeira mulher a exercer um cargo de direção sindical no país. Foi assassinada a tiros em 1983 por denunciar a violência no campo.