O coletivo Judeus pela Democracia classificou como "desserviço" o "péssimo" artigo publicado pela Folha de S.Paulo neste domingo (16) em que o antropólogo baiano Antonio Risério pinça supostos casos ocorridos principalmente nos EUA para justificar sua tese de um “racismo preto antibranco” - ou racismo reverso, como é identificado em meios ultraconservdores.
"O antissemitismo está na sociedade, mas implicar que é racismo reverso é desserviço. Racismo reverso não existe e, na história, o que foi mais violento e prejudicial aos judeus foi praticado por brancos donos do poder (inquisição, pogroms, nazismo)", diz o coletivo em sequência de tuites.
Citando teses de liberais estadunidenses, como o empresário William McGowan, o antropólogo lista os supostos casos ocorridos nos EUA para embasar sua tese de um racismo de negros contra brancos, asiáticos e até judeus.
"Grandes líderes judeus e negros caminharam juntos na luta antirracista e exceções não podem ser objeto de artigo generalista e cheio de falsas premissas", dizem os Judeus pela Democracia.
"O racismo e o antissemitismo são estruturais em nossa sociedade. Um negro não está isento de atitudes antissemitas, tampouco um judeu de ser racista", emenda o coletivo.
Tolice e revolta nas redes
Em seu texto, Risério, que chegou a ser preso na Ditadura, deixou o Ministério da Cultura em 2004 após denúncias de irregularidas no Instituto Brasil Cultural (Ibrac) e ultimamente se alinha às teses da direita para atacar o campo progressista, classifica como “tolice” o que ele diz ser um “dogma que reza que, como pretos são oprimidos, não dispõem de poder econômico ou político para institucionalizar sua hostilidade antibranca”.
O preâmbulo dedicado aos EUA tem como objetivo chegar ao Brasil, onde o antropólogo diz que “o retorno à loucura supremacista aparece, agora, como discurso de esquerda”, em clara sinalização contra o campo progressista, que passou a atacar após fazer parte de movimentos ultraconservadores, escrevendo inclusive um livro em homenagem a Antônio Carlos Magalhães – intitulado ACM em Cena – e outro sobre um suposto “Relativismo Pós-Moderno e a Fantasia Fascista da Esquerda”.
O texto de cunho claramente racista gerou revolta nas redes sociais. Internautas comentaram a publicação da Folha no Twitter que divulga o artigo.
“Esse texto é criminoso, desonesto moral e intelectualmente. Baseado em situações cuja perspectiva de análise é branca. Veja só… Tudo isso para dar viés de legitimidade às práticas estruturalmente racistas da sociedade brasileira. E pior, fundamentando-se em situação estrangeira”, escreveu Leandro Assis.
“Quantos Negros estão na liderança editorial da @folha? Para afirmar que negros dispõem de poder institucional para se efetivarem enquanto racistas contra brancos eu gostaria que a @folha desse um exemplo prático vindo da própria editoria do Jornal”, comentou Leví Kaique Ferreira.