Ex-comandante geral da PM deu a ordem para o ataque contra manifestantes em Recife, confirmam documentos

Minutos antes de os manifestantes seguirem para a Praça do Diário, o agora ex-comandante Vanildo Maranhão havia dado a ordem para que eles fossem dispersados antes mesmo de chegarem ao local indicado

Foto: Arnaldo Sette
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Por Armando Holanda

Documento obtido pelo Jornal do Commercio revela quem deu a ordem para que policiais militares agissem com truculência contra manifestantes no Recife (PE), no último sábado (29), que protestavam contra o governo de Jair Bolsonaro. O documento, revelado pelos jornalistas Raphael Guerra e Samara Lopes, ambos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, mostra que, minutos antes de os manifestantes seguirem para a Praça do Diário, localizada no coração da capital pernambucana, o agora ex-comandante geral da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), Vanildo Maranhão, havia dado a ordem para que eles fossem dispersados antes mesmo de chegarem ao local indicado.

O documento foi destinado ao subcomandante do Batalhão de Choque, major Valdênio Corrêa Gondim da Silva. O material descreve passo-a-passo de como ocorreram e de onde saíram as ordens para os ataques. “Por volta das 11h30, o capitão PM Máximo (oficial de supervisão) chegou ao local e incorporou na Tropa de Choque. Neste momento, recebi uma ligação do major Feitosa, coordenador do Copom, me informando que a determinação do comandante geral da PMPE era para que: se os manifestantes avançassem em direção à Praça do Diário, era para a tropa de choque realizar a dispersão via CDC, usando os meios dispostos”, informa parte do material obtido.

O documento traz à tona, inclusive, a possibilidade de o governo de Pernambuco já ter noção de quem havia dado a ordem para que a PMPE atacasse com truculência os manifestantes que participavam de ato pacífico contra o presidente Jair Bolsonaro. Quando o agora ex-comandante da PM pediu exoneração do cargo, não houve objeções por parte do governo de Pernambuco. A mesma cena se repetiu quando o agora também ex-secretário de Defesa Social do Estado, Antônio de Pádua, pediu desligamento da pasta. Além de ter entregue o cargo, Antônio alegou, em entrevista, que mandou que os ataques parassem, mas não fora obedecido. O comando da PM falou mais alto que o próprio secretário.

Secretário entregou o cargo

A violência policial contra manifestantes que protestavam pacificamente no Recife, no último sábado (29), causou pressão e tensão no governo de Pernambuco. Uma das consequências foi a entrega do cargo do Secretário de Defesa Social de Pernambuco, ocupado até a última sexta (4) por Antônio de Pádua, que ocorreu seis dias após os ataques. A decisão foi aceita, sem questionamentos, pelo governador Paulo Câmara (PSB). Em entrevista, Pádua assinalou que ordenou a paralisação das ações violentas, mas não foi ouvido. O secretário assumiu que faltou pulso por parte da secretaria. Além disso, o ex-comandante da PMPE, responsável pelos ataques, também pediu exoneração, três dias depois da investida policial ordenada por ele, que também fora aceita de maneira tranquila.

Manifestação do último sábado (29)

Manifestantes se reuniram na manhã do último sábado, 29, na praça do Derby, área central do Recife. Eles protestavam contra o governo Jair Bolsonaro, seguiam em direção à Praça do Diário, ponto que dispersaria os manifestantes, quando foram agredidos, de forma truculenta, pela Polícia Militar de Pernambuco.

Os tiros com bala de borracha e a agressão com spray de pimenta, que atingiu a vereadora do Recife, Liana Cirne (PT), tiveram início nas imediações da Avenida Guararapes, ponto próximo ao local de finalização do ato. Além de Liana, outros manifestantes foram atingidos pela ação da PM. Entre eles, um senhor que estava indo em direção ao centro do Recife. Este repórter da Fórum também foi atingido com um tiro de bala de borracha no pé.